O que pode demorar dias, meses, anos a ser construído pode demorar um segundo a ser destruído… Penso que na vida não deveriam existir determinadas palavras ou expressões. Como é o caso do “talvez”, do “mas”, do “vou pensar”, do “se calhar”, do “não sei”, do “fica para depois”, quando esse depois ou o amanhã podem nem sequer existir. Chamem isto de exagero, extremismo ou pessimismo, eu cá chamo realidade. Não somos imortais e o nosso destino só a Deus pertence, como dizem os mais religiosos.
Quase todos os dias a minha mãe chega a casa e conta-me histórias que não lembram a ninguém. É o marido da amiga que teve um AVC, é a mãe de uma colega de trabalho que teve um acidente, é o pai de não sei quem que morreu de um dia para o outro, é a amiga que descobriu um cancro. E nessas alturas eu penso no quanto somos pequeninos e o quanto perdemos por sermos tão picuinhas com pormenores que, no fundo, não interessam para nada. Perdemos demasiado tempo a pensar, quando esse mesmo tempo deveria ser gasto a viver como se não houvesse o tal amanhã.
Lembro-me como se fosse hoje daqueles dias terríveis de Agosto e Setembro, quando de repente a minha avó, que respirava saúde, foi atirada para uma cama do hospital. Se por um lado a minha vida tinha dado uma volta de 180º, por outro tinha acabado de chegar de umas férias fantásticas, preparada para seguir em frente com um sorriso rasgado. Aquela notícia caiu que nem uma bomba na minha cabeça. Parecia que o meu mundo se estava a desmoronar por completo, já não sabia que mais me poderia acontecer naquele instante. Toda a gente fora, a casa vazia, eu tinha de me conseguir manter erguida sozinha, sem o apoio de ninguém. Não sei bem como consegui, sei que nestas alturas me apercebo do tamanho da força interior que temos e que desconhecemos por completo.
Quando cheguei e corri para o hospital, ainda falei com ela. Tudo me parecia mais ou menos controlado. No dia a seguir estava em coma. Não me lembro de sentir tamanho sufoco, tamanha dor. Fiquei desorientada. Não me queriam deixar vê-la naquele estado e eu teimei… Quando vi a minha avó imóvel, mantida viva por uma máquina, cheia de tubos, quase desfaleci. Dei-lhe a mão, acariciei-lhe a face e disse-lhe entre soluços – acreditando piamente que me ouvia – “ai de si que me deixe, todos precisamos de si aqui”. Não consegui ficar muito tempo. Saí a correr, desnorteada, encostei-me a uma parede das escadas e deixei-me escorregar em pleno pranto. O meu avô e os meus tios esperavam-me na porta e eu não queria que me vissem naquele estado. Limpei as lágrimas e saí de óculos escuros para que ninguém visse os meus olhos inchados. Dei um abraço ao meu avô e disse-lhe “Não se preocupe que a avó não tarda nada está em casa. Daqui a um tempo, tudo isto não passará de um pesadelo. O que ela precisa agora é que o avô acredite nela. A força da atracção existe por isso pensamento positivo!” Não sei como consegui, mas dei ao meu avô a força e a energia que nem eu tinha para mim. A verdade é que ele me dizia todos os dias “Em casa estou sempre a repetir em voz alta: ela vai ficar bem, ela vai ficar bem!”. E eu ficava feliz por estar a conseguir dar ânimo a quem dele precisava, porque sei que se a minha avó partisse, o meu avô partiria junto. E isso seria uma tragédia na família.
Nesse dia saí do hospital em estado de choque. O carro ia para onde queria, eu já nem sequer o controlava. Sei que a dada altura o parei, saí e sentei-me em pleno passeio a olhar para o céu e a pensar “O que é que eu faço?”. Nunca tive um sentimento de impotência tão grande. Quando os meus pais me ligavam tinha de fingir que estava tudo bem, dentro dos possíveis. Quando estava em casa, sozinha, o telemóvel sempre que tocava eu estremecia, com medo do nome que ia aparecer no visor e do que poderia ouvir do outro lado. Nesta altura, todos os restantes problemas da vida me pareceram fúteis e banais. Nunca a palavra nunca esteve tão presente. Quando dizem que nestes momentos de aflição uma pessoa se agarra a tudo, é bem verdade. A igreja foi o meu maior refúgio. E o meu maior apoio.
Sem entrar em muitos mais pormenores, a verdade é que, da mesma maneira que de um dia para o outro a minha avó tinha ficado entre a vida e a morte, também de um dia para o outro recuperou. E no natal brindamos todos à presença dela entre nós com um sorriso e lágrimas nos olhos de felicidade. A hora dela não tinha chegado. Felizmente.
Quando recordo aquilo que passei com esta situação de quase perda, sinto que deveria dizer todos os dias às pessoas de quem gosto, o quanto gosto delas e o quanto são importantes para mim. Sinto que deveria viver mais intensamente, sem medos, sem vergonhas, arriscando tudo e dando tudo de mim como, quando e a quem me apetece. Sinto que devia dizer a toda a gente que tem um “talvez” na vida que tenha antes uma certeza. Que viva e aproveite todos os momentos sem receio, sem dúvidas, sem os entraves que todos teimamos em meter no nosso caminho!
A felicidade depende de nós. E isto que hoje aqui escrevo vou fazer por ler muitas vezes. Para que me lembre, sempre que me esquecer, que a vida são dois dias…
Quase todos os dias a minha mãe chega a casa e conta-me histórias que não lembram a ninguém. É o marido da amiga que teve um AVC, é a mãe de uma colega de trabalho que teve um acidente, é o pai de não sei quem que morreu de um dia para o outro, é a amiga que descobriu um cancro. E nessas alturas eu penso no quanto somos pequeninos e o quanto perdemos por sermos tão picuinhas com pormenores que, no fundo, não interessam para nada. Perdemos demasiado tempo a pensar, quando esse mesmo tempo deveria ser gasto a viver como se não houvesse o tal amanhã.
Lembro-me como se fosse hoje daqueles dias terríveis de Agosto e Setembro, quando de repente a minha avó, que respirava saúde, foi atirada para uma cama do hospital. Se por um lado a minha vida tinha dado uma volta de 180º, por outro tinha acabado de chegar de umas férias fantásticas, preparada para seguir em frente com um sorriso rasgado. Aquela notícia caiu que nem uma bomba na minha cabeça. Parecia que o meu mundo se estava a desmoronar por completo, já não sabia que mais me poderia acontecer naquele instante. Toda a gente fora, a casa vazia, eu tinha de me conseguir manter erguida sozinha, sem o apoio de ninguém. Não sei bem como consegui, sei que nestas alturas me apercebo do tamanho da força interior que temos e que desconhecemos por completo.
Quando cheguei e corri para o hospital, ainda falei com ela. Tudo me parecia mais ou menos controlado. No dia a seguir estava em coma. Não me lembro de sentir tamanho sufoco, tamanha dor. Fiquei desorientada. Não me queriam deixar vê-la naquele estado e eu teimei… Quando vi a minha avó imóvel, mantida viva por uma máquina, cheia de tubos, quase desfaleci. Dei-lhe a mão, acariciei-lhe a face e disse-lhe entre soluços – acreditando piamente que me ouvia – “ai de si que me deixe, todos precisamos de si aqui”. Não consegui ficar muito tempo. Saí a correr, desnorteada, encostei-me a uma parede das escadas e deixei-me escorregar em pleno pranto. O meu avô e os meus tios esperavam-me na porta e eu não queria que me vissem naquele estado. Limpei as lágrimas e saí de óculos escuros para que ninguém visse os meus olhos inchados. Dei um abraço ao meu avô e disse-lhe “Não se preocupe que a avó não tarda nada está em casa. Daqui a um tempo, tudo isto não passará de um pesadelo. O que ela precisa agora é que o avô acredite nela. A força da atracção existe por isso pensamento positivo!” Não sei como consegui, mas dei ao meu avô a força e a energia que nem eu tinha para mim. A verdade é que ele me dizia todos os dias “Em casa estou sempre a repetir em voz alta: ela vai ficar bem, ela vai ficar bem!”. E eu ficava feliz por estar a conseguir dar ânimo a quem dele precisava, porque sei que se a minha avó partisse, o meu avô partiria junto. E isso seria uma tragédia na família.
Nesse dia saí do hospital em estado de choque. O carro ia para onde queria, eu já nem sequer o controlava. Sei que a dada altura o parei, saí e sentei-me em pleno passeio a olhar para o céu e a pensar “O que é que eu faço?”. Nunca tive um sentimento de impotência tão grande. Quando os meus pais me ligavam tinha de fingir que estava tudo bem, dentro dos possíveis. Quando estava em casa, sozinha, o telemóvel sempre que tocava eu estremecia, com medo do nome que ia aparecer no visor e do que poderia ouvir do outro lado. Nesta altura, todos os restantes problemas da vida me pareceram fúteis e banais. Nunca a palavra nunca esteve tão presente. Quando dizem que nestes momentos de aflição uma pessoa se agarra a tudo, é bem verdade. A igreja foi o meu maior refúgio. E o meu maior apoio.
Sem entrar em muitos mais pormenores, a verdade é que, da mesma maneira que de um dia para o outro a minha avó tinha ficado entre a vida e a morte, também de um dia para o outro recuperou. E no natal brindamos todos à presença dela entre nós com um sorriso e lágrimas nos olhos de felicidade. A hora dela não tinha chegado. Felizmente.
Quando recordo aquilo que passei com esta situação de quase perda, sinto que deveria dizer todos os dias às pessoas de quem gosto, o quanto gosto delas e o quanto são importantes para mim. Sinto que deveria viver mais intensamente, sem medos, sem vergonhas, arriscando tudo e dando tudo de mim como, quando e a quem me apetece. Sinto que devia dizer a toda a gente que tem um “talvez” na vida que tenha antes uma certeza. Que viva e aproveite todos os momentos sem receio, sem dúvidas, sem os entraves que todos teimamos em meter no nosso caminho!
A felicidade depende de nós. E isto que hoje aqui escrevo vou fazer por ler muitas vezes. Para que me lembre, sempre que me esquecer, que a vida são dois dias…
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