segunda-feira, fevereiro 02, 2009

Passa-nos...uma merda!


Depois de, há uns tempos atrás, descobrir e ler esta fantástica crónica de António Lobo Antunes [basta clicarem na imagem e lerem com MUITA atenção], vem a descoberta desta - também - boa crónica a algumas afirmações deste autor.
Na verdade, as mulheres têm os "fios desligados". Quando querem. Ou pelo menos sempre que o racional resolve tirar umas férias sem pedir autorização. Basta um dia acordarmos, abrirmos os olhos, esfregá-los bem [acto que devia ser feito sempre e várias vezes ao dia], olharmos ao espelho e dizermos para nós mesmas "BASTA". O dia em que a cabeça supera o coração - em que o racional resolve aparecer do Tahiti, da ilhas Fiji ou o caraças - , tarde ou cedo, chega sempre. Não podemos ser, para quem amamos, um segundo plano eternamente [que me desculpem os mais suscptíveis mas PUTA QUE PARIU ESTA MERDA CARALHO! - às vezes sabe bem termos estas tais atitudes "à homem"].
Toda a gente adora complicar. É o vai que não vai. É o hoje sei, amanhã não sei. É o vai-se andando e vai-se vendo. É o acho que sim mas não tenho a certeza. É todo um conjunto de tretas associadas e daqui derivadas. Vá-se lá entender o porquê... Ou é ou não é. O resto é sempre areia para os olhos de quem está "cego" por não querer ver aquilo que sabe que um dia terá de ver. As mulheres precisam de pára-brisas, é o que é.

"Tanta educação para a igualdade e afinal as mulheres em curto-circuito, a estereofonia com que pareciam equipadas desde a nascença parece ter estoirado, já não associam, já não têm tempo para associar, o que as torna mais disponíveis para acreditar: se ele me diz que mereço melhor do que ele é porque está apaixonado por mim, mesmo que depois não me ligue, coitado, não tem tempo, é homem, concentra-se no trabalho, esquece mas não é por mal. Nenhuma mulher de hoje cai na esparrela de dizer que quer ser feliz, isso assusta, é muita responsabilidade, os homens desatam a fugir, quanto mais intelectuais pior, e dizem que é por causa da literatura, que na literatura séria ninguém que se preze acaba feliz, o que não é verdade, mas ajuda muito.
Manda a Cartilha da Liberdade que digamos sempre e só a Verdade, por mais fragmentária, dolorosa e paradoxal que seja, como a verdade humana tende a ser. Mesmo que essa verdade seja um tiro na cara de quem a recebe: a Grande Ética não se comove com os pequenos cacos de um coração. E as mulheres, porque têm fios desligados, vão apanhando do chão os vidros partidos tingidos do seu próprio sangue, fazem deles anéis, chamam-lhes rubis, mostram às amigas: «Olha o que ele me deu, parece mesmo verdadeiro, não é?» Escreve António Lobo Antunes: «Perguntei à minha amiga - E depois de ele se ir embora? — Depois chorei um bocado e passou-me». Sim, passa-nos sempre, António. Passa-nos tanto que eu, que já não me comovo por tudo e por nada...
...comovi-me. A frase traz dentro a vida toda, um bocado do dia de todas as mulheres, o rubi falso em «boomerang» que é a nossa alegria... as infinitas tonalidades da solidão afectiva das mulheres de hoje, as mantas de retalhos de cores variadas que elas vão fazendo com as sobras dos sentimentos impossíveis... As mulheres habituaram-se a entrever o todo na parte — até para esquecer que, muitas vezes, não há senão a parte. Depois choramos um bocado e passa-nos. Passa, uma merda. Mas sorrimos, sim, como uma árvore, no meio da noite."

Por Inês Pedrosa @Revista Única [Expresso]

1 comentário:

Anónimo disse...

Não havia mais crónicas no mundo? :P