sábado, dezembro 29, 2007

Congelamento de mim


Um dia acordei e renasci. Talvez não da melhor forma, ou como gostaria, mas sem ter pedido nada, sem nada ter feito para isso, sem sequer ainda ter percebido como nem porquê, o meu coração congelou. Toda eu congelei.
Passei a ter medo. Medo do apego, medo de criar laços, medo de dar o melhor de mim. Deixou de me importar não estar com "aquelas" pessoas muitas vezes. Até passei a preferir ir saltando, para aqui e para ali, ver caras novas, ter novas conversas, adaptar a forma de estar ou de olhar... Não me importa mesmo porque, neste momento, nada me importa.
Cansei-me de ser afável, dos abraços e dos beijos, das palavras e dos gestos. Cansei-me das facadas nas costas, dos estalos vindos do nada, dos desprezos dolorosos. Cansei-me de sentir intensamente, de ter sonhos desmedidos e da espera sem fim. Cansei-me do eu sensível, do eu carinhoso, do eu presente.
Não me reconheço neste novo ser. Frio, distante, desligado, bruto. Não me reconheço de forma alguma, e este irreconhecimento angustia-me, sempre que me deito, sempre que de novo acordo. E nem sequer me importa se acordo.
Doze passas, doze desejos. Pode ser que os peça. E se acreditar, pode ser que algum se concretize.

terça-feira, dezembro 25, 2007

No natal, a minha prenda eu quero que seja...


Cá estamos nós outra vez. Concordo com aquela afirmação de que o natal devia ser todos os dias e não existir uma época em que, de repente, todos se enchem com um espírito solidário, esbanjando amor, amizade, palavras bonitas, sem esquecer a parte comercial que há muito tempo se instalou e que, ano após ano, se vai agravando chegando mesmo a desgraçar famílias com endividamentos desnecessários e que veio matar o verdadeiro significado da festa em questão. Mas agora o tempo passa tão depressa (deve ser da idade) que realmente ainda ontem estavamos no natal de 2006 e assim, num abrir e fechar de olhos, estamos nós no natal de 2007 e em breve, sem dar outra vez por isso, cá estaremos no de 2008...
Quando era pequenina ansiava por esta data. Os meus pais não tinham grandes possibilidades mas as prendas que me conseguiam dar enchiam-me de uma alegria esfusiante e passava horas a brincar com as novas bonecas e demais, imaginando e sonhando com todo o tipo de fantasias próprias de meninas inocentes que ainda acreditam no pai natal. Nessa altura também sentia a união da família de uma forma muito mais intensa, os laços pareciam-me mais apertados e verdadeiros, e a confraternização que se fazia era tão mais saudável e agradável.
Agora, aos 26 anos, já nada disto me parece ter sentido. Pela primeira vez, em todo este meu tempo de existência, os meus pais estão separados e cada um ficou para o seu lado. Não me sinto triste por mim, mas a angústia e a solidão que o meu pai transborda partem-me o coração, mesmo não conseguindo entender como é que é possível duas pessoas, que se dão tão mal e já cometeram erros tão graves e marcantes para a relação, se possam amar tanto... Pior ainda, este meu sentimento de impotência, porque dar a mão ou um simples abraço já não chegam para reconfortar as únicas pessoas que tenho a certeza que estarão do meu lado para a vida toda, mesmo perante todas as divergências ou conflitos que já tivemos ou ainda possamos vir a ter.
Apesar de tudo sei que pouco deve faltar para fazerem as pazes outra vez. Não sei se algum dia irão conseguir ser felizes. É das relações mais estranhas que conheço. Juntos não estão bem, mas separados estão piores. Confesso que naquelas alturas em que é "regra" pedir um desejo, como nos nossos aniversários ou quando se entra numa igreja pela primeira vez, já longos vão os anos em que o meu desejo é sempre o mesmo: "que os meus pais se entendam e consigam ser novamente felizes" tal como foram, quando eu era mais pequena.
Esses momentos estão ainda tão vivos na minha memória... por isso hoje me pergunto como foi possível chegarem a este ponto. Os carinhos constantes que trocavam, as batalhas que travavam para conseguirem ter as merecidas férias, para comprarem um brinquedo que sabiam que eu tanto desejava mesmo sem nunca ter pedido...a minha mãe até me fazia as roupas para as barbies. Lembro-me dela estar sentada no sofá da sala, a tricotar as camisolinhas enquanto eu brincava no chão e a ia observando...É incrível como as coisas mudam e nós não conseguimos fazer nada para as impedir porque de repente, abrimos os olhos, e já aconteceu.
Eu não gosto muito do natal. Não agora. Já sei que o pai natal não existe e aquele espírito genuíno e humilde já há muito se perdeu nas famílias. Falam em paz e tranquilidade, mas com a euforia dos presentes e de tudo aquilo que se tornou obrigatório ter, uma pessoa anda na rua e tudo se empurra, tudo se atropela, tudo se insulta porque, ao fim e ao cabo, o "eu" interessa, não os "outros". É triste, mas acho que é assim.
Quanto ao resto não posso dizer que pessoalmente também esteja feliz. Ás vezes olho para a personagem do "Dr. House" e revejo-me. Aquela frieza, aquela arrogância, aquele cinismo, aquela aparência e postura do "eu estou bem, sou bom, e nada me atinge"...e depois chega a casa, senta-se e...por momentos transforma-se naquilo que realmente é: uma pessoa com sentimentos, um pouco perdida no mundo e na sua construção pessoal, mas essencialmente isso, com sentimentos.
O meu coração está congelado. Creio que se alguém lhe tocar ele se parte em pedaços. Mas no fundo, por detrás da sua renitência em se entregar e se expôr, ele é carente. Muito carente.
No entanto cá vou andando. Talvez não na verdadeira essência da vida, mas num dos seus "fios que traçam o limite". E os meus desejos continuarão a ser os mesmos em 2008...

segunda-feira, dezembro 17, 2007

Tudo tem um fim...

Sei que sabes que sim
E que para mim
És o mundo lá fora
Não há nada a fazer
Nem nada a dizer
Aqui e agora

Deixa à volta o mundo
Vai ser o que o tempo entender
Nem tu tens de o dizer
Só tens de o sentir
Se Sabes que Sim
e que para mim
És o mundo lá fora

Olha para mim
Se estiveres a fim
Falamos depois
A qualquer hora

Olha para mim
Tudo tem um fim
Vemo-nos depois

Sei que és parte de mim
Estarás sempre aqui
Sei que não demoras
Não há nada a fazer
Nem nada a dizer
Aqui e agora

Deixa à volta o mundo
Vai ser o que o tempo entender
Nem tu tens de o dizer
Só tens de o sentir
Se Sabes que Sim
e que para mim
És o mundo lá fora

Olha para mim
Se estiveres a fim
Falamos depois
A qualquer hora

Olha para mim
Tudo tem um fim
Vemo-nos depois

Olha para mim
Se estiveres a fim
Falamos depois
A qualquer hora

Olha para mim
Tudo tem um fim
Vemo-nos depois
Vemo-nos depois

EZSpecial

quinta-feira, dezembro 13, 2007

Diz-me porquê...

Diz-me
para onde vais
Levas a noite contigo..
Nessa porta em que sais.
Diz-me para onde vais
Deixas-te me meio perdido
entre paredes a mais.

Não.. tenho culpa de ser
Um caso raro
de alguem que não quer
amar e perder
o pouco que tem


Diz-me..diz-me porquê
se a noite é o nosso mundo
porque é que o mundo acabou
será....será que não vês
que é tudo aquilo que tenho
é tudo aquilo que dou

Não.. tenho culpa de ser
Um caso raro
de alguem que não quer
amar e perder
o pouco que tem...

Não.. tenho culpa de ser
Um caso raro
de alguem que nao quer
amar e perder
o pouco que tem..
já nem sei, eu já nem sei...

Pólo Norte

quinta-feira, dezembro 06, 2007

Pais para Sempre


Não deixamos de precisar dos nossos pais à medida que crescemos. Pelo contrário, precisamos sempre de mais pais. Precisamos da sua serenidade sempre que a nossa insista em fugir-nos. Precisamos do bom senso deles quando o nosso parece capitular diante dos impulsos. Precisamos da clarividência com que nos falam sempre que fugimos da razão.
Tragicamente, muitos pais começam a morrer devagarinho à medida que crescemos. Morrem um bocadinho sempre que nos decepcionam. Morrem um pouco mais quando não reconhecemos, nos seus actos, os valores que nos ensinaram e mais ainda quando nos levam a fazer só de pais ao pé de si.
Na verdade, muitos pais morrem dentro de nós muito antes de morrerem. E sempre que morrem mais um bocadinho, morre uma parte da esperança com que esperamos que nos guiassem por entre todas as nossas decepções.

Eduardo Sá, Psicólogo Clínico, in "Tudo o que o amor não é"

terça-feira, dezembro 04, 2007

Promessas enfeitadas


A dois passos da sé catedral do Porto, onde a cidade nasceu e cresceu, existem 88 prédios abandonados, degradados, em ruína. "São números inquietantes. A freguesia da Sé está ao abandono", diz José Teixeira, presidente da junta local. "Será este abandono uma fatalidade?", interroga-se José Campos, dirigente do GABS-Grupo de Apoio ao Bairo da Sé. Há mais vozes inquietantes no coração do centro histórico.

Em tempo de enfeites de Natal e de néon, a noite escurece mais cedo para Laura Ferreira, 78 anos, reformada, como a maioria dos residentes da Sé. Olha para a estátua de Vímara Peres e a meio da Rua do Corpo da Guarda faz uma pausa "Foi ali [na Rua dos Pelames] onde nasci e quero viver o resto dos dias". Carrega mágoas na alma: "Há alguns anos, disseram-me que vinham cá arranjar isto [as casas], mas não vejo jeito. Já perdi a esperança em dias melhores", diz.

Cidade sem memória

José Campos nasceu junto ao morro da Sé e conhece-lhe as entranhas. Há mais prédios ao deus- -dará e, num deles, na Travessa de S. Sebastião, viveu o historiador Alexandre Herculano. A cidade, porém, perdeu a memória "Num outro país, o edifício estava recuperado e seria uma casa de cultura. No Porto existe desprezo".

Há mais contas a fazer na prometida e adiada reabilitação da Sé "A Câmara do Porto é dona de 57 prédios completamente desabitados e, nestes últimos 12 anos, nada fez", critica. O levantamento do GABS tem mais números: "Entre a esquina da Rua da Ponte Nova e o Largo da Bainharia, estão 15 prédios devolutos de três e quatro andares. Se fossem recuperados, serviam de casa para 135 pessoas. Em vez disso, muita gente da Sé é obrigada a sair daqui.O desenraizamento ganha terreno e só ficam os idosos".

"Inabitável, mas bonito"

Alfredo Santos, dono do café "Castiço da Sé", já teve "dias bons" de negócios. "Nem havia espaço para os fregueses. Ficavam lá fora [Rua da Bainharia]. Agora, tenho dias sem apuro. O negócio está pelas ruas da amargura. Já só vejo passar idosos. Está tudo a morrer, a cair de podre", resigna-se. Um dos clientes do "Castiço", David Tavares, vive há 40 anos na Sé e lembra-se "muito bem" das colmeias humanas, quartos subalugados e pobreza, revista num filme neo-realista de Fellini. Só não entendeu as razões por que não foi possível preservar e dar dignidade ao casario da Sé, ao tal património classificado pela UNESCO. "Há anos, vários prédios foram reconstruídos, mas depois tudo parou e chegou-se ao cúmulo de termos várias casas comerciais fechadas. Acho tudo isso criminoso". Antes de chegar ao Mercado do Levante da Sé, Maria da Conceição Moreira, dona da mercearia situada na Rua Escura, 12, faz outras contas à vida e critica o facto de as ruínas do prédio vizinho atingirem a sua casa. "As infiltrações já chegaram às paredes. Vou comprar tijolos e cimento para tapar os remendos", afirma, abanando a cabeça para tirar dúvidas. Nas ruas de S. Sebastião, do Souto, Chã e do Corpo da Guarda existem mais prédios à espera de reabilitação. Tudo parou no tempo. O mercado da Sé perdeu a sua função e mais parece uma fortaleza, refúgio de gente sem eira nem beira. Por perto, estão as estações do metro e a modernidade passa pelas suas entranhas. Na superfície existe néon. Mas está tudo por fazer.

Fonte: JN 3/12/2007

Preocupam-se antes em "plantar" árvores de natal metálicas que gastam obscenidades em electricidade. E o povinho lá vai agradecendo. Enche-lhes a vista! Não há pachorra que aguente a inércia deste país...