segunda-feira, janeiro 25, 2010

Aos Amigos

"Não posso dar-te soluções para todos os problemas da vida,
Nem tenho resposta para as tuas dúvidas e temores,
Mas posso escutar-te e compartilhar contigo.

Não posso mudar o teu passado nem o teu futuro.
Contudo quando necessitares, estarei junto a ti.

Não posso evitar que tropeces,
Somente posso oferecer-te a minha mão para que te agarres e não caias.

As tuas alegrias, os teus triunfos e os teus êxitos não são os meus,
Contudo desfruto sinceramente quando te vejo feliz.

Não julgo as decisões que tomas na vida,
Limito-me a apoiar-te, a estimular-te,
E a ajudar-te sem que mo peças.

Não posso traçar-te limites dentro dos quais deves actuar,
Contudo ofereço-te o espaço necessário para crescer.

Não posso evitar o teu sofrimento.
Quando alguma pena te parte o coração
Mas posso chorar contigo
E recolher os pedaços para juntá-los de novo.

Não posso dizer-te quem és,
Nem quem deverias ser,
Somente posso amar-te como és e ser teu amigo.

Nestes dias pensei nos meus amigos e amigas.
Não estavas em cima, nem em baixo, nem no meio.
Não encabeçavas, nem concluías a lista.
Não eras o número um, nem o número final.
Dormir feliz, emanar vibrações.
Saber que estamos aqui de passagem,
Melhorar as relações.
Aproveitar as oportunidades,
Escutar o coração,
Acreditar na vida.

E tão pouco tenho a pretensão de ser o primeiro,
O segundo ou o terceiro da tua lista...
Basta que me queiras como amigo."

Por Jorge Luis Borges

quarta-feira, janeiro 20, 2010

A vida como um chocolate quente

"Um grupo de jovens licenciados, todos bem sucedidos nas carreiras, decidiu fazer uma visita a um velho Professor, agora reformado.

Durante a visita a conversa dos jovens alongou-se em lamentos sobre o imenso stress que tinha tomado conta das suas vidas. O Professor não teceu qualquer comentário e perguntou-lhes se gostariam de tomar uma chávena de chocolate quente. Todos se mostraram interessados.

Dirigiu-se então à cozinha, de onde regressou vários minutos depois com uma grande chaleira e uma grande quantidade de chávenas, todas diferentes – umas de fina porcelana, outras de rústico barro; umas de vidro, outras de cristal; umas com um aspecto vulgar e outras com um aspecto caríssimo. Disse aos jovens para se servirem à vontade e, quando já todos tinham uma chávena de chocolate quente na mão, comentou:

– Reparem como todos procuraram escolher as chávenas mais bonitas e dispendiosas, deixando ficar as mais vulgares e baratas. Embora seja normal que cada um pretenda o melhor para si, é aí que reside a origem dos vossos problemas. A chávena por onde estão a beber não acrescenta nada à qualidade do chocolate quente. Na maioria dos casos é apenas uma chávena mais requintada, e algumas nem deixam ver o que estão a beber. O que vocês realmente queriam era o chocolate quente e não a chávena; mas foram inconscientemente para as chávenas melhores.

Enquanto todos confirmavam, mais ou menos embaraçados, a observação do Professor, este continuou:

– Considerem agora o seguinte: a vida é o chocolate quente; o dinheiro e a posição social são as chávenas. Estas são apenas meios de conter e servir a vida. A chávena que cada um possui não define nem altera a qualidade da vossa vida. Por vezes, ao concentrarmo-nos apenas na chávena acabamos por nem apreciar o chocolate quente que Deus nos ofereceu. As pessoas mais felizes nem sempre têm o melhor de tudo, apenas sabem aproveitar ao máximo tudo o que têm. Vivam com simplicidade. Amem generosamente. Ajudem uns e outros com empenho. Falem com gentileza… e apreciem o vosso chocolate quente."

quarta-feira, janeiro 13, 2010

Ainda existem Príncipes Encantados

"A pessoa certa não é a mais inteligente, a que nos escreve as mais belas cartas de amor, a que nos jura a paixão maior ou nos diz que nunca se sentiu assim. Nem a que se muda para nossa casa ao fim de três semanas e planeia viagens idílicas ao outro lado do mundo. A pessoa certa é aquela que quer mesmo ficar connosco. Tão simples quanto isto. Às vezes demasiado simples para as pessoas perceberem. O que transforma um homem vulgar no nosso príncipe é ele querer ser o homem da nossa vida. E há alguns que ainda querem.

Os verdadeiros 'Príncipes Encantados' não têm pressa na conquista porque como já escolheram com quem querem passar o resto da vida, têm todo o tempo do mundo; levam-nos a comer um prego no prato porque sabem que no futuro nos vão levar à Tour d’Argent; ouvem-nos com atenção e carinho porque se querem habituar à música da nossa voz e entram-nos no coração bem devagar, respeitando o silêncio das cicatrizes que só o tempo pode apagar. Podem parecer menos empenhados ou sinceros do que os antecessores, mas aquilo a que chamamos hesitação ou timidez talvez seja apenas uma forma de precaução para terem a certeza que não se vão enganar.

O 'Príncipe Encantado' não é o namorado mais romântico do mundo que nos cobre de beijos; é o homem que nos puxa o lençol para os ombros a meio da noite para não nos constiparmos ou se levanta às três da manhã para nos fazer um chá de limão quando estamos com dores de garganta. Não é o que nos compra discos românticos e nos trauteia canções de amor no voice mail, é o que nos ouve falar de tudo, mesmo das coisas menos agradáveis. Não é o que diz 'Amo-te', mas o que sente que talvez nos possa amar para sempre.

O Príncipe que sabe o que quer, não é o melhor namorado do mundo; não é o que olha todos os dias para nós, mas o que olha por nós todos os dias. O que partilha a vida e vê em cada dia uma forma de se dar aos que lhe são próximos. O que quando está cansado fica em silêncio, mas nunca deixa de nos envolver com um sorriso. Não precisa de um carro bestial, basta-lhe uma música bestial para ouvir no carro. Pode ou não ter moto, mas tem quase sempre um cão. Gosta de ler e sai pouco à noite porque prefere ficar em casa a namorar e a ver o Zapping. Cozinha o básico, mas faz os melhores ovos mexidos do mundo e vai à padaria num feriado. O Príncipe é um Príncipe porque governa um reino, porque sabe dar e partilhar, porque ajuda, apoia e nos faz sentir que somos mesmo muito importantes.

Claro que com tantos sapos no mercado, bem vestidos, cheios de conversa e tiradas poéticas, como é que não nos enganamos? É fácil. Primeiro, é preciso aceitar que às vezes nos enganamos mesmo. E depois, é preciso acreditar que um dia podemos ter sorte. E como o melhor de estar vivo é saber que tudo muda, um dia muda tudo e ele aparece. Depois, é só deixa-lo ficar um dia atrás do outro... e se for mesmo ele, fica."

MRP

terça-feira, janeiro 12, 2010

A ordem é...

...viver a vida e impedir que ela viva por nós.

"Eis a ideologia criminosa que se instalou definitivamente nas sociedades modernas: a vida não é para ser vivida - mas construída com sucessos pessoais e profissionais, uns atrás dos outros, em progressão geométrica para o infinito. É preciso o emprego de sonho, a casa de sonho, o maridinho de sonho, os amigos de sonho, as férias de sonho, os restaurantes de sonho.

Não admira que, até 2020, um terço da população mundial esteja a mamar forte no Prozac. É a velha história da cenoura e do burro: quanto mais temos, mais queremos. Quanto mais queremos, mais desesperamos. A meritocracia gera uma insatisfação insaciável que acabará por arrasar o mais leve traço de humanidade. O que não deixa de ser uma lástima.

Se as pessoas voltassem a ler os clássicos, sobretudo Montaigne, saberiam que o fim último da vida não é a excelência, mas sim a felicidade!"

João Pereira Coutinho - Jornalista

quarta-feira, janeiro 06, 2010

Bem-vindos ao ano 2010

Mesmo quando chega aquela altura do dia em que paramos para 'desligar o nosso motor', ele nunca chega a desligar totalmente. Sem perceber bem o porquê, dei por mim a pensar que tinha acabado de se fechar uma nova década. Estamos em 2010.

Vai daí lembrei-me que, quando era mais nova, achava muito engraçado e curioso os meus bisavós - que já cá não estão - terem nascido em datas tão longínquas e diferentes da minha. O meu bisavô era de 1905 e a minha bisavó de 1910. Isto fazia-me imaginar a quantidade de mudanças e evoluções pelas quais eles tinham tido o privilégio - ou não - de passar!

A partir deste ponto, a minha memória divagou e comecei a pensar que a história mundial que os meus filhos e netos irão aprender será bem mais extensa do que aquela que eu tive de aprender na escola. Nessa altura, eles provavelmente irão olhar para mim e ver-me como uma espécie de 'objecto de museu'. Nasci em 1981! Já serei (e sou) alguém que pertence a outro século que não será o deles. Chega a ser um bocado assustador, mas até tem a sua graça.

Divagação puxa divagação, acabei por chegar à conclusão que esta última década (2000-2010) não teve nada de marcante. Todos sabemos o que revolucionou os anos 20, 30, 40, 50, 60, 70, 80 e 90. Todas estas épocas tiveram a sua força na história. Mas então e estes últimos 10 anos? O que é que esta entrada num novo milénio trouxe de importante às pessoas?

A música vive de influências do passado. A dança e a moda também. Até mesmo a política. Os estilos, géneros e atitudes são sempre influenciados por alguma coisa que marcou décadas anteriores. Mas não houve nada, entre o ano 2000 e o 'hoje', de extremamente revolucionário ao ponto de, no futuro, poder servir de influência para algum sector.

No geral, as pessoas andam perdidas. Andam 'por aí'. Deixam-se levar pela vida sem saberem muito bem para onde nem porquê, numa espécie de automatização mecânica. Os valores e princípios são cada vez menos, talvez porque muitos já nasçam sem saber o que realmente significam. Ouvem falar neles mas não ligam. Sabem que existem, mas não se preocupam. A inocência perde-se cedo e o caminho, que antigamente fazia-se questão de delinear, passou a ser uma montanha russa de alta velocidade, cheia de loopings, sem fim nem sentido.

Confesso que foi um momento de 'desligar o motor' um pouco inquietante. Terminei-o com a única conclusão, à primeira vista, viável: esta última década define-se com conceitos tenebrosos... crise, terrorismo e depressão.

Haverá uma reviravolta?