terça-feira, dezembro 25, 2007

No natal, a minha prenda eu quero que seja...


Cá estamos nós outra vez. Concordo com aquela afirmação de que o natal devia ser todos os dias e não existir uma época em que, de repente, todos se enchem com um espírito solidário, esbanjando amor, amizade, palavras bonitas, sem esquecer a parte comercial que há muito tempo se instalou e que, ano após ano, se vai agravando chegando mesmo a desgraçar famílias com endividamentos desnecessários e que veio matar o verdadeiro significado da festa em questão. Mas agora o tempo passa tão depressa (deve ser da idade) que realmente ainda ontem estavamos no natal de 2006 e assim, num abrir e fechar de olhos, estamos nós no natal de 2007 e em breve, sem dar outra vez por isso, cá estaremos no de 2008...
Quando era pequenina ansiava por esta data. Os meus pais não tinham grandes possibilidades mas as prendas que me conseguiam dar enchiam-me de uma alegria esfusiante e passava horas a brincar com as novas bonecas e demais, imaginando e sonhando com todo o tipo de fantasias próprias de meninas inocentes que ainda acreditam no pai natal. Nessa altura também sentia a união da família de uma forma muito mais intensa, os laços pareciam-me mais apertados e verdadeiros, e a confraternização que se fazia era tão mais saudável e agradável.
Agora, aos 26 anos, já nada disto me parece ter sentido. Pela primeira vez, em todo este meu tempo de existência, os meus pais estão separados e cada um ficou para o seu lado. Não me sinto triste por mim, mas a angústia e a solidão que o meu pai transborda partem-me o coração, mesmo não conseguindo entender como é que é possível duas pessoas, que se dão tão mal e já cometeram erros tão graves e marcantes para a relação, se possam amar tanto... Pior ainda, este meu sentimento de impotência, porque dar a mão ou um simples abraço já não chegam para reconfortar as únicas pessoas que tenho a certeza que estarão do meu lado para a vida toda, mesmo perante todas as divergências ou conflitos que já tivemos ou ainda possamos vir a ter.
Apesar de tudo sei que pouco deve faltar para fazerem as pazes outra vez. Não sei se algum dia irão conseguir ser felizes. É das relações mais estranhas que conheço. Juntos não estão bem, mas separados estão piores. Confesso que naquelas alturas em que é "regra" pedir um desejo, como nos nossos aniversários ou quando se entra numa igreja pela primeira vez, já longos vão os anos em que o meu desejo é sempre o mesmo: "que os meus pais se entendam e consigam ser novamente felizes" tal como foram, quando eu era mais pequena.
Esses momentos estão ainda tão vivos na minha memória... por isso hoje me pergunto como foi possível chegarem a este ponto. Os carinhos constantes que trocavam, as batalhas que travavam para conseguirem ter as merecidas férias, para comprarem um brinquedo que sabiam que eu tanto desejava mesmo sem nunca ter pedido...a minha mãe até me fazia as roupas para as barbies. Lembro-me dela estar sentada no sofá da sala, a tricotar as camisolinhas enquanto eu brincava no chão e a ia observando...É incrível como as coisas mudam e nós não conseguimos fazer nada para as impedir porque de repente, abrimos os olhos, e já aconteceu.
Eu não gosto muito do natal. Não agora. Já sei que o pai natal não existe e aquele espírito genuíno e humilde já há muito se perdeu nas famílias. Falam em paz e tranquilidade, mas com a euforia dos presentes e de tudo aquilo que se tornou obrigatório ter, uma pessoa anda na rua e tudo se empurra, tudo se atropela, tudo se insulta porque, ao fim e ao cabo, o "eu" interessa, não os "outros". É triste, mas acho que é assim.
Quanto ao resto não posso dizer que pessoalmente também esteja feliz. Ás vezes olho para a personagem do "Dr. House" e revejo-me. Aquela frieza, aquela arrogância, aquele cinismo, aquela aparência e postura do "eu estou bem, sou bom, e nada me atinge"...e depois chega a casa, senta-se e...por momentos transforma-se naquilo que realmente é: uma pessoa com sentimentos, um pouco perdida no mundo e na sua construção pessoal, mas essencialmente isso, com sentimentos.
O meu coração está congelado. Creio que se alguém lhe tocar ele se parte em pedaços. Mas no fundo, por detrás da sua renitência em se entregar e se expôr, ele é carente. Muito carente.
No entanto cá vou andando. Talvez não na verdadeira essência da vida, mas num dos seus "fios que traçam o limite". E os meus desejos continuarão a ser os mesmos em 2008...