segunda-feira, dezembro 20, 2010

Um dia de uma vida, uma tarde na cidade


No hinduísmo, Ganesh é uma das mais conhecidas e veneradas representações de Deus. Ele é o primeiro filho de Shiva e Parvati, e o esposo de Buddhi e Siddhi. 'Ga' simboliza Buddhi (intelecto) e 'Na' simboliza Vijnana (sabedoria). Ganesh é então considerado o mestre do intelecto e da sabedoria.

Ele é representado como uma divindade amarela ou vermelha, com uma grande barriga, quatro braços e a cabeça de elefante com uma única presa, montado num rato. É habitualmente representado sentado, com uma perna levantada e curvada por cima da outra. Em geral, antepõe-se ao seu nome o título Hindu de respeito 'Shri' ou Sri.

Ganesh é o símbolo das soluções lógicas e deve ser interpretado como tal. O seu corpo é humano enquanto que a cabeça é de um elefante; ao mesmo tempo, o seu transporte (vahana) é um rato. Desta forma, Ganesh representa uma solução lógica para os problemas, ou "Destruidor de Obstáculos". Sua consorte é Buddhi (um sinónimo de mente) e ele é adorado junto de Lakshmi (a deusa da abundância), pelos mercadores e homens de negócio. A razão, sendo a solução lógica para os problemas, e a prosperidade são inseparáveis.

A figura de Ganesh é também um arquétipo cheio de sentidos e de um simbolismo que expressa um estado de perfeição, assim como os meios de obtê-lo. Ganesh, de facto, é o símbolo daquele que descobriu a Divindade dentro de si mesmo.

Ganesh é o som primordial - OM - do qual todos os hinos nasceram. Quando Shakti (Energia) e Shiva (Matéria) se encontram, o Som (Ganesh) e a Luz (Skanda) nascem. Ele representa o perfeito equilíbrio entre força e bondade, poder e beleza. Ele também simboliza as capacidades discriminativas que providenciam a habilidade de perceber a distinção entre a verdade e a ilusão, o real e o irreal.

A imagem de Ganesh é composta por quatro animais: homem, elefante, serpente e rato. Todos eles, individualmente e colectivamente, têm um profundo simbolismo.

Cada elemento do corpo de Ganesh tem o seu próprio valor e o seu próprio significado:

* A cabeça de elefante indica fidelidade, inteligência e poder discriminatório;
* O facto dele ter apenas uma presa (estando a outra quebrada) indica a habilidade de Ganesh superar todas as formas de dualismo;
* As orelhas abertas denotam sabedoria; habilidade para ouvir pessoas que procuram ajuda e para reflectir sobre as verdades espirituais. Elas simbolizam a importância de escutar para conseguir assimilar ideias. As orelhas são usadas para ganhar conhecimento. As grandes orelhas indicam que quando Deus é conhecido, todo o conhecimento também o é;
* A tromba curvada indica as potencialidades intelectuais que se manifestam na faculdade de discriminação entre o real e o irreal;
* Na testa, o Trishula (arma de Shiva, similar a um Tridente) é desenhado, simbolizando o tempo (passado, presente e futuro) e a superioridade de Ganesh sobre ele;
* A barriga de Ganesh contém infinitos universos. Ela simboliza a benevolência da natureza e unanimidade; a habilidade de Ganesh sugar os sofrimentos do Universo e proteger o mundo;
* A posição das suas pernas (uma a repousar no chão e a outra de pé) indica a importância da vivência e a participação no mundo material assim como no mundo espiritual; a habilidade de viver no mundo sem ser do mundo.
* Os quatro braços de Ganesh representam os quatro atributos do corpo subtil, que são: mente (Manas), intelecto (Buddhi), ego (Ahamkara), e consciência condicionada (Chitta). O Senhor Ganesh representa a pura consciência - o Atman - que permite que estes quatro atributos funcionem em nós;
* A mão que segura uma machadinha é um símbolo da restrição de todos os desejos que trazem dor e sofrimento. Com esta machadinha Ganesh pode repelir e destruir os obstáculos. A machadinha serve também para levar o homem para o caminho da verdade e da rectidão;
* A segunda mão segura um chicote, símbolo da força que leva o devoto para a eterna beatitude de Deus. O chicote diz-nos que os apegos mundanos e os desejos devem ser deixados de lado;
* A terceira mão, em direcção ao devoto, está numa pose de bênçãos, refúgio e protecção (abhaya);
* A quarta mão segura uma flor de lótus (padma) e simboliza o mais alto objectivo da evolução humana, a realização do seu verdadeiro eu.

Em termos gerais, Ganesh é uma divindade muito amada e frequentemente invocada, já que é o Deus da Boa Fortuna, que proporciona prosperidade, e também o Destruidor de Obstáculos de ordem material ou espiritual. É por este motivo que a sua graça é invocada antes de se iniciar qualquer tarefa (por exemplo viajar, prestar uma prova, realizar um negócio, uma cerimónia, uma entrevista de trabalho). É também por este motivo que, tradicionalmente, todas as sessões de bhajan (cântico de devoção) se iniciam com uma invocação a Ganesh, o Senhor dos "bons inícios". Por toda a Índia de cultura hindu, o Senhor Ganesh é o primeiro ídolo colocado em qualquer nova casa ou templo.

Além disso, Ganesh é associado ao primeiro chakra, que representa o instinto de conservação, sobrevivência e procriação. O nome desse chakra é muladhara.

Ganesh é também definido como Omkara ou Aumkara, que significa "tem a forma de Om". De facto, a forma do seu corpo é uma cópia do traçado da letra Devanagari que indica este grande Bija Mantra. Por causa disso, Ganesh é considerado a encarnação corporal do Cosmos inteiro. Ele está na base de todo o mundo fenomenal...

"Om ganaman tva ganapatigm havamahe kavim kavinamupamashravastanam
jyestharajam brahmanam brahmanaspata a nah shrunvannutibhih sida sadanam"

segunda-feira, novembro 29, 2010

"O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessoa; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade… sei lá de quê!”

Florbela Espanca

quinta-feira, novembro 04, 2010

Não quis guardá-la para mim
Mas tanto pior...
Quem sou eu para te ensinar
A ver o lado claro de um dia mau?

Eu sei,
A vida é
Marcada pela dor, muitas vezes de não saber aonde dói.

Mas vê bem,
Não houve, à luz do dia,
Quem não tenha provado
O travo amargo da melancolia!
A culpa não é minha,
São efeitos secundários da poesia.

Mas para quê gastar o meu tempo
se os teus pés não descolam do chão?...

É só mais um dia mau...

[texto readaptado]

segunda-feira, outubro 11, 2010

Curiosidades astrológicas...


Nas alturas em que temos de tomar decisões importantes e, diria mesmo, cruciais, tudo é válido. Agora, resta-me acreditar!...

"Imagina-te a assistir a um filme: o filme da tua vida – pelo menos por um período de seis meses, aproximadamente. Entretanto, como em qualquer sessão de cinema, há uma sinopse, uma espécie de síntese daquilo que será mais marcante no espectáculo a que vais assistir.

Aqui, esta síntese é representada por um dos 56 arcanos menores do Tarot. Cada carta aponta para um cenário diferente, que pode ser afectivo, profissional, intelectual ou espiritual. Este cenário mostra quais serão os assuntos mais recorrentes e importantes neste teu ciclo de - aproximadamente - seis meses.

A força que marca estes teus próximos tempos é a do Fogo, claramente demonstrada pela simbologia do naipe de paus. O teu momento é purificador, regenerador. O transbordar de uma poderosa intuição vai-te permitir compreender quais os caminhos que devem ser trilhados e vais desafiar a tua própria alma ao trilhar tais roteiros. A emergência de uma carta do naipe de paus revela que algo, no mais profundo da tua alma, está a transbordar, para que traves contacto com os aspectos mais íntimos do teu ser. Estes próximos meses serão marcados por desafios poderosos que farás a ti mesma e também por percepções mais amplas da realidade ao teu redor. O momento é de tomar iniciativas que permitirão mudar o contexto das coisas que não aprecias na tua vida.

Cenário: Uma cena de triunfo, em que uma personagem central é aplaudida.

O 6 de Paus (o arcano VI deste naipe traduz sucesso, plenitude, autoconfiança e uma energia receptiva capaz de revelar o equilíbrio interior) emerge como o significante central do teu jogo de Tarot Semestral, sugerindo que esforçaste-te, empenhaste-te e que, provavelmente, atingirás uma meta especial nestes próximos meses. Algum tipo de prémio ou manifestação de reconhecimento vai-se dar e tu terás que assumir um papel de liderança, ainda que tal coisa possa ser temporária. Haverá razões para alegria, só não penses que as glórias são eternas, pois tudo passa.

Síntese do Semestre: Estes próximos meses serão marcados por uma conquista pessoal muito importante. Após um período passado de muito esforço e exaustão, finalmente poderás colher os louros do triunfo. Poderás esperar por reconhecimento e aclamação pelos teus esforços. Aproveita para comemorar, estando mais perto dos teus amigos e das pessoas amadas."

segunda-feira, setembro 13, 2010

Até onde nos auto-comandamos (?)

No dia em que batemos com a 'cabeça na parede' - seja pela primeira ou milésima vez, com mais ou menos impacto e danos físicos e/ou psicológicos - temos a tendência inconsciente e absolutamente imediata de dizermos 'com esta já aprendi', ou então 'nunca mais me apanham numa (situação) igual'.

Na verdade, aprendemos sempre alguma coisa com estes acidentes de percurso (mau era!).

Na verdade, muitos destes acidentes começam a ser totalmente evitados (felizmente).

Na verdade, com estes erros crescemos (e geralmente é mesmo sinal de que estamos a envelhecer).

Na verdade, acredito - e quero mesmo continuar a acreditar - que nunca nada acontece por acaso (caso contrário, qual o sentido de uma vida?).

Mas, também na verdade, quando nos envolvemos emocionalmente com a potencial situação de 'perigo', a afirmação do 'nunca mais' transforma-se numa questão tão subjectiva, que se torna quase impossível de gerir ou sequer de controlar.

Eu bem disse para mim própria que... 'nunca mais'. E, na verdade, hoje estou envolvida de corpo e alma naquilo em que um dia prometi a mim mesma que... 'nunca mais'.

O meu Eu fundiu-se com outro Eu. E agora, em vez de dizer... 'nunca mais' digo antes, numa tentativa de colmatar a falha racional, 'espero nunca mais ter que pensar ou dizer...nunca mais'.

quinta-feira, setembro 09, 2010

quarta-feira, setembro 08, 2010

Mais para além de "nós"

"Eu fiz isto, eu fiz aquilo, eu fui ali e acolá, eu já estive lá, eu gosto, eu faço, eu costumo isto ou aquilo, etc., etc." Este é o 1º sinal de que estamos perto de uma pessoa egocêntrica; quando da mesma boca sai muitas vezes a palavra "Eu".

Embora o Ego seja o bom senso entre o nosso inconsciente e a nossa noção do dever e das responsabilidades morais e sociais, os egocêntricos olham apenas para o próprio "umbigo". Não fazem nada contra nem a favor dos outros. Simplesmente fazem tudo por e para eles mesmos, por se acharem os mais importantes e pensarem apenas neles próprios.

Pingo de vergonha na cara. Há quem, muitas vezes, não tenha nenhum, o que é pena. Ter - nem que seja uma única gota - de vergonha fica bem e recomenda-se. Para um futuro melhor!

segunda-feira, agosto 30, 2010

O dia a seguir a esta vida

"Na minha próxima vida, quero viver de trás para a frente:

Começar morto, para despachar logo o assunto. Depois, acordar num lar de idosos e ir-me sentindo melhor a cada dia que passa. Ser expulso porque estou demasiado saudável, ir receber a reforma e começar a trabalhar, recebendo logo um relógio de ouro no primeiro dia.
Trabalhar 40 anos - cada vez mais desenvolto e saudável - até ser jovem o suficiente para entrar na faculdade; embebedar-me diariamente e ser bastante promíscuo. E depois estar pronto para o secundário e para a primária, antes de me tornar criança e só brincar, sem responsabilidades.
Aí torno-me um bébé inocente até nascer. Por fim, passo nove meses a flutuar num 'spa' de luxo, com aquecimento central, serviço de quarto à disposição e com um espaço maior por cada dia que passa, até que - 'Voilà!' - desapareço num orgasmo."

by Woody Allen

terça-feira, agosto 24, 2010

"Vivo surda de gritar comigo mesma em silêncio todos os dias dentro da minha cabeça."

MRP

quinta-feira, agosto 05, 2010

Dilema, erro ou intuição

"O amor é uma coisa inexplicável: olhas e percebes.
Às vezes tens de te afastar, porque percebes no olhar: 'Esta pessoa seria especial, esta pessoa é especial.' Porque às vezes podes entrar nesse romance, outras vezes não podes."

In Pública 18/07/2010, por António Carlos Cortez

O segredo está - na maioria dos casos - na precisão da interpretação do olhar dessa tal pessoa especial, vulgo na capacidade para o interpretar. Se nos enganamos perdemos, se acertamos tornamo-nos pessoas felizes. Ou ainda mais.

Naquele momento o meu olhar não demonstrou, mas tu tiveste a sensibilidade para sentir e o optimismo para acreditar que seria o caminho certo. Obrigada por me deixares ser eu e por me fazeres feliz.

Há encontros assim.

segunda-feira, julho 26, 2010

Quebrar o Gelo

Sai de dentro das linhas e faz tudo para que te chamem estúpido. Se isso acontecer é o elogio pelo teu espectáculo.

Saíste das regras, conseguiste, e o julgamento do olho normal, dentro da linha, considera-te estúpido, desalinhado.

Quer isso dizer que te libertaste. Sem medo do ridículo. Libertaste os pensamentos, extravasaste em criação e, sobretudo, não te levaste a sério. Nunca te leves a sério. Isso é coisa de gente esperta e de espertos já está o mundo cheio.

Be stupid e dá algo novo. Afinal, ser estúpido pode ser só ser consciente de que nunca se tem nada a perder. Ser estúpido é correr riscos e, para correr riscos, embora sendo-se estúpido, é preciso ser-se bravo. Isto no caso de se ser estúpido por consciência e confiança, e não por pura falta de noção das circunstâncias.

Sê estúpido como um brilhante palhaço. Sê estúpido como só tu mesmo, ou entra numa de revivalismo à atitude trash com inspiração jackass e quando vires um par de calças que valem no mercado 3 centos de euro, na rua, dentro de um paralelo de gelo, a título de exercício, arma-te de picaretas, maçaricos, martelos e uma grande vontade de pura diversão. Sem troféus. Apenas desafio ao engenho e boa disposição.

É um jogo e, embora o prémio não seja a paz de espírito, levam-se umas calças de ganga e mais tudo o que se pode ganhar com a experiência de um dia ter perdido a vergonha, o limite e o risco, não tendo importância o motivo mas sim a consequência.

Be stupid.

SMART SEES WHAT THERE IS. STUPID SEES WHAT THERE COULD BE.
SMART LISTENS TO THE HEAD. STUPID LISTENS TO THE HEART.
SMART MAY HAVE THE BRAIN. STUPID HAS THE BALLS.


In DIF, edição nº75

segunda-feira, julho 19, 2010

"Sim, sei bem
Que nunca serei alguém.

Sei de sobra
Que nunca terei uma obra.

Sei, enfim,
Que nunca saberei de mim.

Sim, mas agora,
Enquanto dura esta hora,
Este luar, estes ramos,
Esta paz em que estamos,
Deixem-me crer
O que nunca poderei ser."

Fernando Pessoa

segunda-feira, julho 12, 2010

No meu tempo não era assim...

“Estás bonita nesta foto” – tinha sido no baile de debutantes, na sua apresentação à sociedade, quando este ainda era no Palácio da Bolsa. O vestido era deslumbrante; branco como manda a tradição, mas apesar de a cor ser igual para todas, há sempre forma de lhe dar o merecido destaque. E o seu era realmente lindo. Conjugado com a tenra idade que ainda tinha, com a pele lisa e luminosa que ostentava, com o cabelo especialmente penteado para a ocasião, tudo ajudou a que marcasse a diferença e a que lhe tenham tirado uma foto – ainda que a preto e branco - com aquele sorriso inocente e pura beleza.

“O Zé foi contigo?” - já se conheciam, mas não foi. “Candidatos para dançar não faltaram!”, e riram-se timidamente, trocando olhares cúmplices com alguma malandrice à mistura. “A mim também nunca me faltavam. Sou pequenina mas eles preferem-nos assim… Havia mulheres mais altas e bonitas mas era sempre a mim que eles vinham perguntar se queria dançar!”. Era pequena, de facto, mas tinha o talento. Se era por isso ou não que os ‘rapazes’ a abordavam, não sei. Mas sei que nem sempre a beleza é um factor primordial. Se sabia dançar - o que era um requisito importante nas mulheres da altura -, tinha o charme e a presença, certamente que não passava indiferente. Voltaram as duas a sorrir com aquele tom que denuncia histórias por contar. E que, certamente, ficarão por contar.

“Na nossa altura era tudo muito diferente”, disse a amiga ‘pequenina’ com um misto de revolta e nostalgia. Pois era, o que hoje ninguém se coíbe de fazer aos olhos da sociedade, antigamente era considerado um ultraje. As pessoas de outro tempo dizem sempre estas coisas, mas as suas trocas de olhares não enganam ninguém… Talvez a grande diferença esteja nos limites que hoje não sabem medir, o que torna a liberdade bem mais exacerbada, pensei eu.

Falaram também de clubes que antes existiam e que frequentaram. Foi lá que aprenderam a ser “donas de casa” e mães perfeitas. Afinal, antigamente era esse o trabalho da Mulher. Era esse o seu “curso superior”. Saber cozinhar, saber bordar, saber dobrar um lençol, pôr uma mesa, passar a ferro uma camisa, tirar nódoas mais complicadas da roupa. Provavelmente depois ensinaram tudo isto às empregadas que iam contratando, mas pelo menos não mandavam fazer nada que não soubessem fazer elas melhor do que ninguém. Não há coisa pior do que mandar os outros cumprir tarefas que nem nós próprios sabemos como cumprir. Apesar de tudo, não deixa de ser engraçado imaginar este modo de viver de há uns anos atrás que, se pensarmos bem, nem são assim tantos quantos parecem ser.

Olhei para ela mais uma vez. Está bonita – bem vestida, bem maquilhada, bem penteada, como manda a etiqueta. Toda ela irradia luz; os olhos, o sorriso, os gestos. Pega na minha mão e assim fica, com a mão dela agarrada à minha, durante o tempo todo que ali permaneci. Vai-me observando e vai sorrindo, com orgulho da mulher que me tornei, fruto da mulher que ela gerou e criou. Com saudade da menina que fui e ajudou a educar anos a fio. Pergunta-me pela vida, pelo trabalho, pelas amigas que viu crescer comigo. Pergunta-me pelo casamento e pelos bisnetos. Timidamente baixo o olhar e respondo-lhe “um dia. Ainda não, mas um dia…”, com um sorriso sem jeito nos lábios. Com algum desconsolo encolhe os ombros, mas os olhos continuam a brilhar. Acho que compreende o que quero dizer, mesmo que a resposta pareça ser sempre a mesma.

Cá dentro a notícia vai ruminando. Com inquietude, preocupação, ansiedade, medo, desassossego. Pergunto-me se aquela luz vai continuar a irradiar energia durante mais 5 anos… Podem ser menos, podem ser mais, mas quem sabe? Para o bem ou para o mal, a vida consegue sempre surpreender-nos, embora todos nasçamos com a certeza do nosso fim. É, no final de contas, a única certeza que a vida nos consegue dar. Mas darem-nos um prazo de validade? Nunca estamos preparados para aceitá-lo, seja ele certo ou incerto, mais curto ou mais longo, por egoísmo ou por não querermos simplesmente perder quem amamos e quem nos ama, verdadeiramente.

Realmente as coisas mudam. O tempo transporta com ele o poder da mudança e já nada é como era… antigamente nada era efémero. Mesmo que verdadeiramente o fosse. Era mais feliz assim.

terça-feira, junho 01, 2010

Queres mudar? Começa por ti.

"Uma das verdades mais fundamentais - e no entanto mais difíceis de compreender - é a de que as pessoas vivem todas em diferentes níveis de consciência.

Não se assimila esse Ensinamento nas suas mais profundas implicações apenas lendo ou pensando sobre ele; há que observar a maneira como as pessoas agem, pensam, falam, sentem, reagem, vivem. O que lhes ocupa o pensamento. Como usam o tempo. O que as preocupa. Os objectivos que têm na vida. Aquilo de que falam. E então torna-se evidente que todas vivem em diferentes níveis de consciência e, até, o nível de consciência em que vivem.

A grande maioria da Humanidade vive num nível biológico-social instintivo. Nesse nível, as pessoas são condicionadas pelos valores vigentes e pela mentalidade comum. As suas identidades são uma mera extensão das normas, crenças, costumes e tabus da sociedade em que nasceram. Vivem polarizadas na sobrevivência e, se possível, na acumulação de dinheiro, poder e estatuto. No mínimo, precisam de um emprego seguro e um parceiro para acasalar e reproduzir-se. Odeiam a solidão.

Não têm ideias ou pensamentos originais; falam do que toda a gente fala, têm as opiniões que os meios de comunicação, os líderes de opinião e o status quo querem que tenham. Lêem jornais desportivos e revistas sobre programas de televisão, falam sobre pessoas e acontecimentos triviais do dia-a-dia. Gostariam que o mundo mudasse mas não começam por si próprios. Não questionam o que lhes é dito; se os seus líderes lhes dizem que os afegãos são maus e os astrólogos mentirosos, então os afegãos são maus e os astrólogos mentirosos. Assim, bovinamente, sem sequer investigarem o assunto. Consomem bens e serviços de que não precisam de facto e cujo único valor é o próprio acto de serem adquiridos e o estatuto que lhes está associado - na ilusão de que serão mais no dia em que tiverem mais.

Vivem vidas inteiras repetindo os mesmos padrões mentais e emocionais, submersos na sua própria subjectividade e incapazes de se verem objectivamente. Não fazem ideia do que são "energias", "arquétipos" ou "padrões". Não fazem ideia de que a vida é um processo de crescimento e desenvolvimento pessoal e não uma luta pela sobrevivência.

São os autómatos de que o sistema precisa para assegurar a sua reprodução e a manutenção das suas próprias estruturas. Constituem a "consciência da massa".

Libertarmo-nos da consciência da massa tem um preço muito alto. Porque os valores da sociedade são redutores, mas dão segurança - a mesma segurança que um rebanho dá a uma ovelha.

Evoluir para outro nível de consciência implica questionar e pensar por si mesmo; implica ser incompreendido e ridicularizado por quem não vê mais longe. Implica conviver com as conversas ocas, mecânicas, de quem nos rodeia. Implica ser livre. E a sociedade não gosta de indivíduos livres, porque são uma falha no sistema e um mau exemplo para os autómatos - e esses é que fazem falta, para que tudo isto funcione..."

Nuno Michaels


O início da mudança está sempre ao nosso alcance, porque esse início somos nós mesmos.
Dedos apontados? Apontem os que quiserem. Risos? Rasguem quantos vos apeteça. Tema de conversa? Gastem o meu nome à vontade. O que não destrói, fortalece.

Não me canso de citar esta meia dúzia de palavras que valem por milhares de outras: "para ser grande, sê inteiro". Não acrescentes nem reduzas; apenas sê tu mesmo em tudo aquilo que fazes. Em tudo aquilo que dizes. Em tudo aquilo que vives.

Respostas para todas as perguntas? Para todas as dúvidas? Desculpem, não as tenho. Gostava inúmeras vezes de as ter, mas não sou mais do que ninguém. Sou apenas eu. Mais um Ser Humano que vive, entre outros tantos, em sociedade. Por isso 'não faças o que eu faço', não queiras nem esperes que eu diga o que tens de fazer; é na nossa individualidade que está o nosso valor e a fórmula para crescermos e fazermos crescer...

quarta-feira, maio 26, 2010

Eu não evoluo, VIAJO.

Vou mudando de personalidade, vou enriquecendo-me na capacidade de criar personalidades novas, novos tipos de fingir que compreendo o mundo, ou, antes, de fingir que se pode compreendê-lo.

Por isso dei essa marcha em mim como comparável, não a uma evolução, mas a uma viagem: não subi de um andar para outro; segui, em planície, de um para outro lugar. Perdi, é certo, algumas simplezas e ingenuidades, que havia nos meus poemas de adolescência; isso, porém, não é evolução, mas envelhecimento.

quinta-feira, maio 13, 2010

Venho, passo, fico...vou!

Dizes-me: tu és mais alguma coisa
Que uma pedra ou uma planta.
Dizes-me: sentes, pensas e sabes
Que pensas e sentes.
Então as pedras escrevem versos?
Então as plantas têm ideias sobre o mundo?

Sim: há diferença.
Mas não é a diferença que encontras;
Porque o ter consciência não me obriga a ter teorias sobre as coisas:
Só me obriga a ser consciente.

Se sou mais que uma pedra ou uma planta? Não sei.
Sou diferente. Não sei o que é mais ou menos.

Ter consciência é mais que ter cor?
Pode ser e pode não ser.
Sei que é diferente apenas.
Ninguém pode provar que é mais que só diferente.

Sei que a pedra é a real, e que a planta existe.
Sei isto porque elas existem.
Sei isto porque os meus sentidos mo mostram.
Sei que sou real também.
Sei isto porque os meus sentidos mo mostram,
Embora com menos clareza que me mostram a pedra e a planta.
Não sei mais nada.

Sim, escrevo versos, e a pedra não escreve versos.
Sim, faço ideias sobre o mundo, e a planta nenhumas.
Mas é que as pedras não são poetas, são pedras;
E as plantas são plantas só, e não pensadores.
Tanto posso dizer que sou superior a elas por isto,
Como que sou inferior.
Mas não digo isso: digo da pedra, «é uma pedra»,
Digo da planta, «é uma planta»,
Digo de mim «sou eu».
E não digo mais nada. Que mais há a dizer?

Alberto Caeiro

quinta-feira, abril 29, 2010

Vou chegar onde só chega quem não tem medo de naufragar

Não vou procurar quem espero
Se o que eu quero é navegar
Pelo tamanho das ondas…
Conto não voltar,
Parto rumo à primavera
Que em meu fundo se escondeu…
Esqueço tudo do que eu sou capaz
Hoje o mar sou eu,
Esperam-me ondas que persistem
Nunca param de bater,
Esperam-me homens que desistem
Antes de morrer,
Por querer mais do que a vida
Sou a sombra do que eu sou…
E ao fim não toquei em nada
Do que em mim tocou…

Eu vi
Mas não agarrei

Parto rumo à maravilha,
Rumo à dor que houver para vir,
Se eu encontrar uma ilha
Paro para sentir
E dar sentido à viagem
Para sentir que eu sou capaz…
Se o meu peito diz coragem
Volto a partir em paz

Eu vi
Mas não agarrei

sexta-feira, abril 23, 2010

Ser 'gaja'

Ser ‘gaja’ às vezes irrita-me. Por muito que tente fugir das pressões sociais e dos dilemas femininos comuns - diria até ‘fúteis’ – está-nos nos genes e não conseguimos escapar-lhes. Existem sempre aqueles minutos, às vezes semanais, outras vezes mais frequentes, dependendo da altura do ano ou da nossa corrente de hormonas, em que tudo de problemático nos enche a cabeça.

Basta folhear umas revistas ‘cor-de-rosa’, ver aqueles programas na televisão com apresentadoras e/ou assistentes escolhidas a dedo - altas, magras, sempre bem vestidas, bem maquilhadas, bem penteadas, vistosas, atraentes - ou, pior ainda, as revistas masculinas com produções XPTO carregadas de photoshop. Aquelas a quem chamam ‘VIPS’ conseguem, inclusivamente, acabar de ser mães e - quando geralmente o normal é sair da maternidade com mais uns 15 quilos em cima, cabelo desgrenhado, cara deslavada, um ar exausto (mas feliz, é certo) a precisar de manutenção -, vemo-las a ser fotografadas como se acabassem de ter saído de um SPA; com um outfit de acordo com as últimas tendências, um cabelo brilhante e bem tratado, as unhas arranjadas e uma maquilhagem luminosa mas natural, não vá parecer exagero ou até um pouco 'pimbalhesco'. Inacreditável.

Há alturas em que simplesmente não consigo estar bem com o meu físico. Na verdade, embora faça sempre por parecer uma pessoa com uma auto-estima elevada, e talvez daí o facto de a maioria das pessoas me achar, à primeira vista, convencida ou com um ar altivo, nunca me considerei uma ‘gaja boa’. Bendita roupa que disfarça tudo aquilo que detestamos em nós! Hoje em dia ninguém se pode queixar: desde soutiens ‘push up’, mais ou menos almofadados que fazem as mamas perfeitas, até às calças que arrebitam o rabo, ou que até o fazem parecer bem-feitinho, tudo passa por uma questão de sabedoria quando toca a escolher padrões, tecidos, ou até mesmo os cortes das peças de roupa, o tamanho e espessura do tacão do sapato e, no final, a conjugação de tudo! (nota-se logo que trabalho com moda, há uns tempos atrás certamente não escreveria nada disto).

O caldo entorna mesmo é quando chega a altura do calor e nos apercebemos que o verão está prestes a arrebentar com todo o seu esplendor. Calções, mini-saias, decotes, tops justos e curtos, biquínis, praia, muita gente à nossa volta a observar… Nunca ultrapassei o terror dos primeiros dias de praia! Primeiro por ser branca como a cal e achar isso horroroso e, segundo, por odiar 98% do meu corpo, se considerarmos que só gosto do meu nariz e do meu peito. Há uns anos atrás ainda tinha um certo amor pela minha barriga, mas agora nem isso. Só de imaginar toda aquela luz que o sol irradia sobre aqueles defeitos mais tenebrosos, mais vale nem tecer comentários. É em alturas como esta, por exemplo, que adorava ser milionária; clínicas e tratamentos miraculosos fazia-os a todos. Ou quase. Fútil, eu sei, mas fazer o quê? Sou 'gaja' e estas mesquinhices irritam-me.

Não como muito. Também não pratico desporto, é um facto, mas infelizmente o tempo cada vez é mais escasso e os ginásios são exageradamente caros. Como é que conseguem vir com aquele blá blá blá de cuidar da saúde e da manutenção da boa forma física se depois não fomentam essa necessidade e impossibilitam o seu acesso a pessoas com a carteira menos recheada? Não entendo. Nunca entendi. Isso e aquelas dondocas que só lá andam para desfilarem os micro modelitos, para se atirarem descaradamente aos professores e para afiarem a língua com comentários acerca das outras que lá andam…mas para exercitar o corpo, como manda o local em questão. Mas isto seria pano para mangas que agora não me apetece fabricar, porque nem essa importância merece.

Ao bocado decidi pesar-me. Nunca o faço. Talvez só duas vezes por ano, e porque faz parte das consultas médicas de rotina. Desta vez sinto-me tão ‘inchada’ que não resisti a ver se é panca ou se realmente engordei uns 10 quilos, porque é isso que muitas vezes me parece. Porém, o número que piscou (nas 3 vezes que subi à balança para confirmar) continua a não me convencer. Ronda o mesmo de sempre. Mais uns gramas, mas é noite e acabei hà pouco tempo de jantar. Então - pergunto-me eu - porquê a roupa estar mais apertada e porquê eu sentir-me tudo menos confortável com o meu corpo? Isto dá mesmo cabo de mim, irrita-me ser ’gaja’, aquela ‘gaja’ padrão da sociedade.

Para além disto - desta preocupação com o ego, com o bem-estar físico, com a aproximação do tempo de praia - às vezes também acontece comparar-me com qualquer mulher: não só com as que aparecem nas revistas, com as apresentadoras de TV, com as actrizes de cinema, mas também com as que me rodeiam num café, num bar, num restaurante. Pior do que isso, com as 'ex'. Com as aventuras. Eram melhor? Pior? Mais gordas? Mais magras? Mais ‘boas’? Tinham pneus na barriga? Celulite no rabo? Estrias nas coxas? Eram mais sensuais, sexy, atraentes, bombásticas? Bem, quando chegamos a este ponto das duas uma: ou fazemos um retiro espiritual no Tibete ou metemo-nos num avião rumo ao paraíso, para arejar as ideias, acalmar os neurónios e concentrarmo-nos no mar quente azul-turquesa, na espreguiçadeira e na caipiroska pousada numa mesinha mesmo ao nosso lado, de preferência com uma daquelas palhinhas bem grandes para nem sequer termos de esticar o braço para pegar no copo.

Qualquer uma destas opções parece-me fantástica tendo em conta que, ultimamente, ando cansada e sem tempo para nada. Sem tempo especialmente para mim. O trabalho cada vez mais me consome, o que me pagam é desproporcional ao desgaste físico acabando, por sua vez, por contribuir para um desgaste psicológico. Em casa há sempre aquelas tarefas pendentes e depois, claro está, o corpo a acusar o cansaço e a idade também a não perdoar. Desde que os dias se tornaram mais longos que ainda não consegui ter a oportunidade de sair do escritório à hora suposta e poder usufruir de um belo pôr de sol, numa esplanada à beira-mar. Triste, mas é a dura realidade de quem cresceu sem querer nem pedir a ninguém para crescer.

Esta falta de tempo fomenta também em mim as saudades de escrever. Tudo o que tenho conseguido é simplesmente mental. Quantas vezes não surgem na minha cabeça, de um momento para o outro, aquelas frases, temas ou constatações em que dava tudo para poder parar o tempo, pegar num papel e numa caneta – ou num computador – e soltar todas as palavras que emergem abruptamente? Mas nem sequer isto tenho conseguido, quanto mais não seja porque falha-me a energia para o conseguir fazer como desejo. Nestes casos, em que sei que não vou conseguir transmitir o que realmente quero, prefiro continuar quieta e guardar a ânsia e a necessidade de o fazer para outra altura mais favorável. Como por exemplo esta. Ou não.

Ser 'gaja' ás vezes irrita-me mesmo!

segunda-feira, abril 12, 2010

Agora vivo num mundo à parte do teu

Pensas que eu vou jogar este jogo contigo
Tudo o que eu tenho é meu, só meu, queres o meu “guito”
Trata de pegar nas tuas cenas e “baza”
Eu cá não fico contigo na mesma casa

Falas disso, esquece isso
Eu não percebo porque é que ainda estás cá

Que queres de mim
Que queres que eu faça
Dá meia volta e “baza”
Não me leves a mal
Gajas como tu não quero, não tolero
Saio do sério
Noite deslumbrante
Corpo escaldante
Lembro-me de tudo o que passamos
Foi bom naquele instante
Agora considero-te uma gaja irritante

...

Pensas que vais ficar por cá muito mais tempo
Demasiado tarde por isso aproveita este momento
Agora vivo num mundo à parte do teu
Mas continuo sem saber o que nos aconteceu

...

Expensive Soul - Falas Disso

sexta-feira, abril 09, 2010

Eu não minto. Digo o que sinto.

Quando alguma coisa corre mal - ou menos bem - seja em relações ou no trabalho, a maior parte das pessoas tende a crer que falhou em alguma coisa, o que nem sempre é certo.

Se acreditaste, se te empenhaste, se te dedicaste, se acarinhaste, se sentiste, se te sacrificaste, se deste tudo aquilo que podias dar e, mesmo assim, a facada veio pela calada, então a falha não foi certamente tua.

Não sei o que é preferível, se perder porque falhamos ou se perder porque a outra pessoa quis falhar. Afinal de contas, a dor é a mesma.

...as amizades também morrem.

quinta-feira, março 18, 2010

quarta-feira, março 10, 2010

A teoria da conspiração

Confirma-se. Hoje lembrei-me de um pormenor talvez 'engraçado' para ser dissertado: o que é que aconteceu à tão falada, divulgada e controversa gripe A?

Pois bem, tal como eu previ, o seu fim foi igual ao seu início: rápido e repentino. Explicações? Aparentemente nenhuma. Foi como a vaga do vírus das 'vacas loucas' ou de uns outros tantos que sem mais nem porquê assolam o mundo, provocam o pânico global, a confusão geral, o medo social e a fobia pela prevenção.

Golpes baixos de quem governa o mundo para enriquecer à custa do povinho? Esquemas dos cabecilhas da área da saúde para gerar receitas? Experiências de quem tem o poder para fazer de nós cobaias ignorantes? Estará o mundo nas mãos de pessoas maléficas sem claramente se aperceber?

Isto quase me parece um filme ao estilo de "Truman Show", que relata a história de um homem cuja vida serve de base, 24 horas por dia, a um espectáculo colussal de televisão. A cidade onde vive é um estúdio montado propositadamente para o efeito, os moradores, trabalhadores e até a própria mulher são actores e, gradualmente e inevitavelmente, ele acaba por enlouquecer quando tudo começa a ganhar o seu verdadeiro sentido.

Será isto que querem de nós, seres humanos? Serão os por 'nós' considerados loucos, os mentalmente saudáveis que, por verem uma verdade oculta, têm que ser aprisionados para não falarem demais?

Um exagero pensar nesta possibilidade, talvez. O facto incontornável é que este vírus mortal do 'H1n1' se evaporou à mesma velocidade com que se propagou. E, parafraseando as palavras que uma vez ouvi, colocando nelas uma pequena alteração: podem fazer de mim vaca, mas louca é que não!

quarta-feira, março 03, 2010

'O futuro não depende totalmente da nossa vontade, nem é totalmente alheio a ela; não o esqueças, para que não tomes como uma fatalidade o que ainda não aconteceu, nem como impossível de concretizar aquilo que mais desejas.'

Epicuro, 341-270 a.C., filósofo grego, Carta a Meneceu

segunda-feira, fevereiro 01, 2010

Estou para os 30 como Portugal está para a salada de fruta

Dizem que a chegada dos 30 pouco ou nada nos traz de diferente, mas a minha perspectiva não condiz com esta aparente indiferença. Não estou com um 'pé para a cova', nem tão pouco me sinto velha (pelo menos de espírito), só que as evidências não me deixam ficar impassível aos anos que passam à velocidade da luz.

Há 10 anos atrás estava longe de me preocupar com 'gordurinhas' a mais, celulite instalada, estrias, má circulação do sangue, colestrol alto, falta de vitaminas, descamação do couro cabeludo e outras coisas afins que o corpo vai acusando pelo desgaste e maus hábitos do dia-a-dia. Não tinha que me preocupar tanto com a aparência - exactamente por não ter que ir disfarçando esta passagem do tempo - e não tinha que fazer contas aos gastos para a manutenção de uma pele, cabelo e/ou unhas bonitas. Sentia-me bem mais livre destas 'futilidades' necessárias para uma auto-estima minimamente equilibrada (e não me venham com filosofias de que ter auto-confiança não é importante para uma psique saudável).

Aos 20 anos de idade também me sentia longe de ter o peso das responsabilidades que tenho hoje; bastava-me estudar para ter boas notas e cumprir com o prometido ao meu pai, pois em troca tinha garantida a minha mesada e a minha liberdade social, vulgo sair e entrar em casa às horas que bem me apetecia. Agora se dormir pouco ou nada não posso ouvir o despertador, desligá-lo e virar-me para o lado a pensar 'que se lixe o trabalho, alguém há de o fazer por mim'. Tenho que pensar em contas porque - embora ainda não tenha casa própria e os custos a ela inerentes - tenho carro, um crédito pessoal em curso, uma cadela para cuidar e outras 'pequenas' coisas que os pais já não pagam, porque já muito eles fizeram. Fora ainda os extras que qualquer ser humano necessita para desanuviar desta vida rotineira de 'adulto', como os jantares de amigos, as ansiadas férias e o cinema a um domingo à noite. Se não for eu, ninguém se vai preocupar com isso por mim.

A juntar a este natural processo de crescimento, o estado lastimável da economia mundial que, como não podia deixar de ser, é fruto dos comportamentos irresponsáveis, gananciosos e materialistas do ser humano que 'domina' o mundo apelidado de 'moderno'. A crise está instalada de tal maneira que não há esforço que resista ao cinto que já nem aperta...sufoca, quase que mata! Pedindo desde já desculpa pelo termo menos próprio, neste país de 'merda' deviam preocupar-se mais, por exemplo, com quem o governa do que com palermices, como o caso das escutas do Pinto da Costa. Podem achar-me suspeita por ser portista mas, que me desculpem novamente os que isso consideram relevante, eu quero lá saber de 'sumaríssimos' pedidos por favor, da criação de falsas polémicas, de encomendas de 'saladas de fruta' por parte de equipas de arbitragem, de café com leite ou mais escuro...estão a brincar comigo?? Qual é a empresa, negócio ou afim neste país de 3º mundo que não vive de corrupção, fachadas e factos camuflados? Creio que existem casos bem mais graves com que se perder tempo para endireitar 'paus que nascem tortos' - ou que se tornam tortos - por viverem num país feito à base de leis e demais coisas tortas!

Em jeito de curiosidade, lembrei-me agora que, na semana passada, a minha mãe trouxe um tupperware de biscoitos e eu, ao olhar para eles, não pensei duas vezes antes de soltar a frase 'olha...os biscoitos da bibó!". Quando o disse senti-me um pouco constragida, mas foi mais natural do que a 'minha própria sede'. Calei-me e, por momentos, a minha memória viajou para os meus 10/12 anos quando, a seguir à escola, ia a casa dela. Existiam sempre 2 rituais: o leite acompanhado por aqueles biscoitos característicos, em forma de S, e os chocolates 'escondidos' atrás de uma pequena porta de um armário da sala, que a minha bisavó comprava propositadamente para cada uma das bisnetas. É incrível o que determinados pormenores nos fazem recordar. Acho que, durante a minha curta viagem ao passado, até consegui sentir o cheiro da casa dela e até mesmo, o dela própria. Foi uma questão de segundos, mas consegui imaginar cada detalhe como se ainda ontem tivesse lá ido, a seguir às aulas. Já passaram mais de 10 anos e ela já faleceu há 5.

Nessa altura eu ainda era uma criança bem inocente. Ainda o sou, é certo, mas (in) felizmente já não em tanta coisa. Na adolescência conseguia imaginar-me na perfeição com a idade de hoje; casada, com filhos, uma casa, uma vida organizada. Era tudo fácil. Hoje, quase nos 30, tenho muito, mas não tudo. E desgasta-me pensar que estudei 20 anos para depois a compensação não ser a esperada ou, até mesmo, a prometida. Desgasta-me trabalhar 8 ou mais horas por dia durante 5 dias por semana e ganhar uma miséria. Desgasta-me o empenho sem recompensa. A dedicação com base em falsas expectativas. Desgasta-me a reprimenda de chegar 15 minutos atrasada de manhã e ter que responder 'o meu horário de saída também é às 18h30' ou pensar nas tantas horas extra que ninguém me paga ou enaltece. Desgastam-me os sonhos mutilados, o futuro incerto, a hipocrisia dos abastados e a luta com resultados, para já, inglórios para as minhas ambições.

Perante tudo isto, só me apetece mesmo continuar a dizer 'quero lá saber da fruta e do café com leite'! Venha mas é a garantia da água própria para beber e do pão fresco para comer...

Porque eu sou do tamanho do que vejo e não do tamanho da minha altura

Como nuvens pelo céu
Passam os sonhos por mim.
Nenhum dos sonhos é meu
Embora eu os sonhe assim.
São coisas no alto que são
Enquanto a vista as conhece,
Depois são sombras que vão
Pelo campo que arrefece.

Símbolos? Sonhos? Quem torna
Meu coração ao que foi?
Que dor de mim me transtorna?
Que coisa inútil me dói?

Fernando Pessoa

segunda-feira, janeiro 25, 2010

Aos Amigos

"Não posso dar-te soluções para todos os problemas da vida,
Nem tenho resposta para as tuas dúvidas e temores,
Mas posso escutar-te e compartilhar contigo.

Não posso mudar o teu passado nem o teu futuro.
Contudo quando necessitares, estarei junto a ti.

Não posso evitar que tropeces,
Somente posso oferecer-te a minha mão para que te agarres e não caias.

As tuas alegrias, os teus triunfos e os teus êxitos não são os meus,
Contudo desfruto sinceramente quando te vejo feliz.

Não julgo as decisões que tomas na vida,
Limito-me a apoiar-te, a estimular-te,
E a ajudar-te sem que mo peças.

Não posso traçar-te limites dentro dos quais deves actuar,
Contudo ofereço-te o espaço necessário para crescer.

Não posso evitar o teu sofrimento.
Quando alguma pena te parte o coração
Mas posso chorar contigo
E recolher os pedaços para juntá-los de novo.

Não posso dizer-te quem és,
Nem quem deverias ser,
Somente posso amar-te como és e ser teu amigo.

Nestes dias pensei nos meus amigos e amigas.
Não estavas em cima, nem em baixo, nem no meio.
Não encabeçavas, nem concluías a lista.
Não eras o número um, nem o número final.
Dormir feliz, emanar vibrações.
Saber que estamos aqui de passagem,
Melhorar as relações.
Aproveitar as oportunidades,
Escutar o coração,
Acreditar na vida.

E tão pouco tenho a pretensão de ser o primeiro,
O segundo ou o terceiro da tua lista...
Basta que me queiras como amigo."

Por Jorge Luis Borges

quarta-feira, janeiro 20, 2010

A vida como um chocolate quente

"Um grupo de jovens licenciados, todos bem sucedidos nas carreiras, decidiu fazer uma visita a um velho Professor, agora reformado.

Durante a visita a conversa dos jovens alongou-se em lamentos sobre o imenso stress que tinha tomado conta das suas vidas. O Professor não teceu qualquer comentário e perguntou-lhes se gostariam de tomar uma chávena de chocolate quente. Todos se mostraram interessados.

Dirigiu-se então à cozinha, de onde regressou vários minutos depois com uma grande chaleira e uma grande quantidade de chávenas, todas diferentes – umas de fina porcelana, outras de rústico barro; umas de vidro, outras de cristal; umas com um aspecto vulgar e outras com um aspecto caríssimo. Disse aos jovens para se servirem à vontade e, quando já todos tinham uma chávena de chocolate quente na mão, comentou:

– Reparem como todos procuraram escolher as chávenas mais bonitas e dispendiosas, deixando ficar as mais vulgares e baratas. Embora seja normal que cada um pretenda o melhor para si, é aí que reside a origem dos vossos problemas. A chávena por onde estão a beber não acrescenta nada à qualidade do chocolate quente. Na maioria dos casos é apenas uma chávena mais requintada, e algumas nem deixam ver o que estão a beber. O que vocês realmente queriam era o chocolate quente e não a chávena; mas foram inconscientemente para as chávenas melhores.

Enquanto todos confirmavam, mais ou menos embaraçados, a observação do Professor, este continuou:

– Considerem agora o seguinte: a vida é o chocolate quente; o dinheiro e a posição social são as chávenas. Estas são apenas meios de conter e servir a vida. A chávena que cada um possui não define nem altera a qualidade da vossa vida. Por vezes, ao concentrarmo-nos apenas na chávena acabamos por nem apreciar o chocolate quente que Deus nos ofereceu. As pessoas mais felizes nem sempre têm o melhor de tudo, apenas sabem aproveitar ao máximo tudo o que têm. Vivam com simplicidade. Amem generosamente. Ajudem uns e outros com empenho. Falem com gentileza… e apreciem o vosso chocolate quente."

quarta-feira, janeiro 13, 2010

Ainda existem Príncipes Encantados

"A pessoa certa não é a mais inteligente, a que nos escreve as mais belas cartas de amor, a que nos jura a paixão maior ou nos diz que nunca se sentiu assim. Nem a que se muda para nossa casa ao fim de três semanas e planeia viagens idílicas ao outro lado do mundo. A pessoa certa é aquela que quer mesmo ficar connosco. Tão simples quanto isto. Às vezes demasiado simples para as pessoas perceberem. O que transforma um homem vulgar no nosso príncipe é ele querer ser o homem da nossa vida. E há alguns que ainda querem.

Os verdadeiros 'Príncipes Encantados' não têm pressa na conquista porque como já escolheram com quem querem passar o resto da vida, têm todo o tempo do mundo; levam-nos a comer um prego no prato porque sabem que no futuro nos vão levar à Tour d’Argent; ouvem-nos com atenção e carinho porque se querem habituar à música da nossa voz e entram-nos no coração bem devagar, respeitando o silêncio das cicatrizes que só o tempo pode apagar. Podem parecer menos empenhados ou sinceros do que os antecessores, mas aquilo a que chamamos hesitação ou timidez talvez seja apenas uma forma de precaução para terem a certeza que não se vão enganar.

O 'Príncipe Encantado' não é o namorado mais romântico do mundo que nos cobre de beijos; é o homem que nos puxa o lençol para os ombros a meio da noite para não nos constiparmos ou se levanta às três da manhã para nos fazer um chá de limão quando estamos com dores de garganta. Não é o que nos compra discos românticos e nos trauteia canções de amor no voice mail, é o que nos ouve falar de tudo, mesmo das coisas menos agradáveis. Não é o que diz 'Amo-te', mas o que sente que talvez nos possa amar para sempre.

O Príncipe que sabe o que quer, não é o melhor namorado do mundo; não é o que olha todos os dias para nós, mas o que olha por nós todos os dias. O que partilha a vida e vê em cada dia uma forma de se dar aos que lhe são próximos. O que quando está cansado fica em silêncio, mas nunca deixa de nos envolver com um sorriso. Não precisa de um carro bestial, basta-lhe uma música bestial para ouvir no carro. Pode ou não ter moto, mas tem quase sempre um cão. Gosta de ler e sai pouco à noite porque prefere ficar em casa a namorar e a ver o Zapping. Cozinha o básico, mas faz os melhores ovos mexidos do mundo e vai à padaria num feriado. O Príncipe é um Príncipe porque governa um reino, porque sabe dar e partilhar, porque ajuda, apoia e nos faz sentir que somos mesmo muito importantes.

Claro que com tantos sapos no mercado, bem vestidos, cheios de conversa e tiradas poéticas, como é que não nos enganamos? É fácil. Primeiro, é preciso aceitar que às vezes nos enganamos mesmo. E depois, é preciso acreditar que um dia podemos ter sorte. E como o melhor de estar vivo é saber que tudo muda, um dia muda tudo e ele aparece. Depois, é só deixa-lo ficar um dia atrás do outro... e se for mesmo ele, fica."

MRP

terça-feira, janeiro 12, 2010

A ordem é...

...viver a vida e impedir que ela viva por nós.

"Eis a ideologia criminosa que se instalou definitivamente nas sociedades modernas: a vida não é para ser vivida - mas construída com sucessos pessoais e profissionais, uns atrás dos outros, em progressão geométrica para o infinito. É preciso o emprego de sonho, a casa de sonho, o maridinho de sonho, os amigos de sonho, as férias de sonho, os restaurantes de sonho.

Não admira que, até 2020, um terço da população mundial esteja a mamar forte no Prozac. É a velha história da cenoura e do burro: quanto mais temos, mais queremos. Quanto mais queremos, mais desesperamos. A meritocracia gera uma insatisfação insaciável que acabará por arrasar o mais leve traço de humanidade. O que não deixa de ser uma lástima.

Se as pessoas voltassem a ler os clássicos, sobretudo Montaigne, saberiam que o fim último da vida não é a excelência, mas sim a felicidade!"

João Pereira Coutinho - Jornalista

quarta-feira, janeiro 06, 2010

Bem-vindos ao ano 2010

Mesmo quando chega aquela altura do dia em que paramos para 'desligar o nosso motor', ele nunca chega a desligar totalmente. Sem perceber bem o porquê, dei por mim a pensar que tinha acabado de se fechar uma nova década. Estamos em 2010.

Vai daí lembrei-me que, quando era mais nova, achava muito engraçado e curioso os meus bisavós - que já cá não estão - terem nascido em datas tão longínquas e diferentes da minha. O meu bisavô era de 1905 e a minha bisavó de 1910. Isto fazia-me imaginar a quantidade de mudanças e evoluções pelas quais eles tinham tido o privilégio - ou não - de passar!

A partir deste ponto, a minha memória divagou e comecei a pensar que a história mundial que os meus filhos e netos irão aprender será bem mais extensa do que aquela que eu tive de aprender na escola. Nessa altura, eles provavelmente irão olhar para mim e ver-me como uma espécie de 'objecto de museu'. Nasci em 1981! Já serei (e sou) alguém que pertence a outro século que não será o deles. Chega a ser um bocado assustador, mas até tem a sua graça.

Divagação puxa divagação, acabei por chegar à conclusão que esta última década (2000-2010) não teve nada de marcante. Todos sabemos o que revolucionou os anos 20, 30, 40, 50, 60, 70, 80 e 90. Todas estas épocas tiveram a sua força na história. Mas então e estes últimos 10 anos? O que é que esta entrada num novo milénio trouxe de importante às pessoas?

A música vive de influências do passado. A dança e a moda também. Até mesmo a política. Os estilos, géneros e atitudes são sempre influenciados por alguma coisa que marcou décadas anteriores. Mas não houve nada, entre o ano 2000 e o 'hoje', de extremamente revolucionário ao ponto de, no futuro, poder servir de influência para algum sector.

No geral, as pessoas andam perdidas. Andam 'por aí'. Deixam-se levar pela vida sem saberem muito bem para onde nem porquê, numa espécie de automatização mecânica. Os valores e princípios são cada vez menos, talvez porque muitos já nasçam sem saber o que realmente significam. Ouvem falar neles mas não ligam. Sabem que existem, mas não se preocupam. A inocência perde-se cedo e o caminho, que antigamente fazia-se questão de delinear, passou a ser uma montanha russa de alta velocidade, cheia de loopings, sem fim nem sentido.

Confesso que foi um momento de 'desligar o motor' um pouco inquietante. Terminei-o com a única conclusão, à primeira vista, viável: esta última década define-se com conceitos tenebrosos... crise, terrorismo e depressão.

Haverá uma reviravolta?