segunda-feira, agosto 31, 2009

Ganha-se um 'instante' para se perder uma 'vida'

- “Sabes se ela anda por aí?”
- “Por acaso não…sei que costuma vir, estive para lhe ligar mas depois passou-me!”
- “Pois, é provável que esteja por aqui, lá com o ‘advogado’…”
- “Hum…isso soa-me a ‘dor de cotovelo’…olha que te fica mal.”
- “Achas? Estou a brincar! Nem o conheço direito…Foi só um comentário.”
- “A verdade é que perdeste o amor da tua vida.”
- “Lá isso…tens toda a razão. Ainda voltamos a tentar mas não resultou, como sabes.”
- “Há coisas que deixam marcas impossíveis ou difíceis de apagar. Que depois de feitas, destroem pilares importantes e imprescindíveis para sustentar qualquer relação.”
- “ Eu sei, eu sei. Por isso é que nunca mais voltarei a repetir o erro. Se bem que ‘nunca digas nunca’… Mas não quero voltar a ver ninguém sofrer como vi a ela. E tu bem sabes, estiveste sempre lá…”
- “Sim, foi bastante mau! Pelo menos sempre conseguiram manter a amizade. É um ponto positivo que nem sempre se consegue ganhar.”
- “É verdade! Ainda vamos falando. Internet, telemóvel. Quando dá ainda tomamos um café para pôr a conversa em dia. Soube admitir o que fiz, que mais poderia fazer? A razão não estava do meu lado e embora ela fosse tudo o que eu queria, não consegui que ultrapassasse o mal que lhe fiz.”
- “Eu até entendo…há tentações, momentos menos conscientes, fases mais frágeis, carentes…mas mesmo assim não é justificação…”
- “Mas eu não fiz nada, estava quietinho no meu lugar! A ‘gaja’ é que se atirou a mim e eu…”
- “ …e tu estavas a atravessar uma fase menos boa e blábláblá…nestas situações a culpa é sempre dos outros! E quieto não ficaste de certeza, caso contrário não teria acontecido.”
- “Pois é…pronto…falhei. Foram quase 6 anos juntos…mas agora [3 anos passados] estou bem, já não digo que a amo.”
- “Podes não amar mas foi o amor da tua vida.”
- “Sem dúvida.”

E é assim que as pessoas vão perdendo os seus amores: aqueles que os completam, que os fazem sorrir, chorar, que os fazem sentir especiais, importantes, únicos, mesmo naquelas alturas em que parece que mais ninguém no mundo se importa ou quer saber. Não interessa. Aquela pessoa estava sempre lá. Ontem, hoje, amanhã. O carinho, a atenção, a cumplicidade num gesto, numa troca de olhares, o “encaixe-mais-que-perfeito”.

Um dia um passo em falso, sem significado, mal medido, irracional, deita tudo por terra. Cai-se de um precipício para um abismo sem fim porque para trás fica o tal “amor da vida” que não se voltará a sentir em intensidade.

E este caso é apenas um exemplo de perda, que aqui exponho por ter surgido em conversa recente, porque há quem deixe “escapar entre os dedos” a 'tal' pessoa por motivos bem menores, incoerentes, diria até absurdos mas momentaneamente talvez incontroláveis...
...por orgulho.
...por teimosia.
...por imaturidade.
...porque aquele não é o 'momento certo' e “o que terá de ser nosso para nós, cedo ou tarde, voltará”. Será mesmo assim?

Há quem complique porque a sociedade “impingiu” a ideia de que tudo é complicado, portanto o que é simples não pode estar bem. É preciso complicar! Ou será que, na verdade, impingiu a "obrigatoriedade"de uma monogamia maioritariamente utópica?

De facto, o físico e/ou a mente têm impulsos e atitudes que as emoções do coração desconhecem. Uma questão que poderia ter divagações sem fim se, mais uma vez, tivesse tempo. Fica a curiosidade pessoalmente pouco compreendida… pela evidência cada vez mais significativa de casos reais que perdem, por um prazer instantâneo, uma vida de prazer permanecente.