quarta-feira, março 09, 2011

Há coisas que nunca mudam

Com a quase chegada à tão “abominável” e temida entrada nos 30, paro um pouco e reflicto sobre tudo o que ouço – de amigos, de familiares, de desconhecidos que conversam sem se aperceberem que ali ao lado está alguém atento às palavras trocadas.

Os 30… a primeira reacção: “Que horror, estou a ficar mesmo velha!”, ou então: “Já?? Como o tempo passa depressa…”. Pois passa e, infelizmente, passamos cerca de um quarto de vida a desejar “ser grande” para depois chegarmos à conclusão que bom era ser criança e, a partir daí, passarmos o restante quarto de vida e a outra metade a desejar não termos crescido tão depressa.

Tenho algumas amigas que já completaram os seus 30 anos de existência. E amigos também, a maioria. Mas para os homens a entrada nos 30 está longe de ser um drama. Afinal os trintões, aos olhos de muitas mulheres, esbanjam charme, já sendo expectável a maturidade, o respeito, o cavalheirismo e a dedicação que aos 20 não nos davam por – pensamos nós – infantilidade, despreocupação e/ou distracção.

Mas 30 anos para uma mulher são tudo menos razão para festejos efusivos. Começamos a queixar-nos das rugas (e, consequentemente, a corrermos para comprar os cremes anti-rugas que antigamente só a mãe e a avó precisavam/usavam), a repararmos que o rabo está descaído, que as mamas já não são bem o que eram e que, no geral, todo o nosso corpo apresenta uma certa flacidez e alguns defeitos nunca antes detectados. Aparecem brancas no cabelo, a memória deixa de ser o que era, e tudo isto…de um dia para o outro.

Não será antes o facto de, a partir desse dia, olharmos para nós ao espelho e passarmos realmente a VER? Sim, porque antes, ainda sem a pressão inerente a esta idade ou sem os complexos “impingidos” pela sociedade, simplesmente olhávamos para o espelho…mas não víamos o que de um minuto para o outro passa a ser uma dor de cabeça.

Na rua passamos a aperceber-nos que as pessoas nos tratam por “senhora” em vez de “menina”. Mas nem ligamos ao pormenor dessas mesmas pessoas serem miúdas de 18 anos, e que também nós nessa idade achávamos os trintões uns “cotas”. Em todo o lado começam a perguntar-nos pelo casamento, pelos filhos, pela casa…e muitas de nós, mulheres de 30 anos, ainda vivemos com os pais, sem perspectivas desse futuro pelo qual nos perguntam, embora já com uma vontade imensa de o viver.

Ainda tenho 4 meses para aproveitar a casa dos “20”. Mas VEJO-ME e as rugas estão aqui. Em torno dos olhos, nos cantos da boca. Rugas de expressão, como lhes chamam. Não apareceram hoje, nem ontem, nem tão pouco sei precisar o momento em que surgiram, mas já cá andam. É natural, fazem parte da evolução normal de um ser humano. Se gosto delas? É óbvio que não. Mas o que fazer? Tenho de aprender a lidar com o envelhecimento e tentar minorar o seu desenvolvimento com o que actualmente existe. Exercício físico, cosméticos, tratamentos de estética. Já é uma sorte existir essa evolução científica e podermos usufruir dela. Quanto ao resto nada de muito diferente a declarar. O peito está no lugar, o rabo – maior ou mais pequeno – tem a sua cruz e nunca fará parte das minhas preferências. O cabelo continua forte e a dar trabalho q.b., a memória já foi melhor mas ainda está longe do inimigo Alzheimer.

O meu corpo vai realmente fazer 30 anos. Não há remédio nem volta a dar. Mas o meu “Eu” interior está longe de envelhecer e de acompanhar o ritmo do meu físico. Penso em mim, na minha pessoa, e sorrio. É que às vezes tenho a plena noção de que devo mesmo “roçar” nos limites do ridículo. Continuo a sentar-me no degrau de uma escada, na beira de um passeio, ou até no chão se for preciso. Continuo a escrever “bilhetinhos” como fazia nos tempos de estudante, mas agora em reuniões de trabalho. Continuo a ter ataques de riso incontroláveis quando vejo uma imagem cómica – ou não –, quando ouço o impensável, quando vejo cenários inesperados, ou quando me lembro de momentos únicos. Pior mesmo é ter estes ataques de riso sem motivo aparente e não conseguir parar por ficar nervosa exactamente… por não conseguir parar. Continuo a atirar-me para o chão quando o riso já me faz doer a barriga. Continuo a ver desenhos animados e a chorar com a história, se for triste. Continuo a ir à queima das fitas para estar com os amigos, a saltar de barraca em barraca, e sair de lá aos S’s. Continuo a tropeçar por estar distraída, a pensar no dia de ontem, ou a deixar cair tabuleiros e objectos afins por ter mãos de manteiga. Continuo a vestir calças rotas, a calçar "All Star" e a comprar camisolas com bonecos da BD. Continuo a gostar de entrar em parques infantis e andar nos baloiços e escorregões. Continuo a fazer sons parvos e a inventar nomes idiotas para dar às coisas ou às pessoas. Concluindo, continuo igual a mim própria.

Não sou casada, não tenho filhos, não tenho casa. Mas tenho trabalho e um tecto graças aos meus pais que me permitiram tê-lo. Sou saudável, tenho bons amigos, um namorado (até agora) perfeito, e muitos outros detalhes que fazem o meu dia-a-dia feliz.

Quanto ao que ainda falta “life goes on”, caminhando se faz o caminho e tudo o tempo se encarregará de esclarecer. Também já ouvi dizer, por várias bocas, que a fase dos 30 é a melhor fase da mulher, em todos os aspectos. Se assim for até fico expectante.

Independentemente de tudo, há coisas que nunca mudam, e continuo a ter em mim “todos os sonhos do mundo”.

05/03/2011 – Escrito metade na terra, metade nos céus