quarta-feira, maio 06, 2009

Há um tempo para tudo.E contra factos, não há argumentos!

"Estou que nem posso… Já não tenho idade para ir à queima à semana. Acho que a meio da noite me esqueci que já sou grande e que hoje é dia de trabalho e perdi a conta aos shots malucos que bebi.
Estou sempre a dizer que sou miúda, que ainda sou uma criança, mas a verdade é que me senti bastante grande junto das pessoas com vinte e poucos anos com quem falei. Já nem coragem de cravar bebidas como se a minha vida dependesse desse feito, tenho. Ou de pedir shots e quando eles são servidos, baixar-me e desatar a correr para trás da barraca, como nos bons velhos tempos.
Estou velha, é o que é. Apetece-me dizer a todas as pessoas que por lá andam “aproveita como se não houvesse amanhã porque esses são os melhores tempos da tua vida e passam tão depressa…”. Ou seja, aqueles discursos muita chatos que os cotas me diziam na minha altura e que não entendia.
É verdade, a faculdade é o melhor tempo da vida de qualquer um… É com nostalgia que vejo aqueles olhares sem preocupações, como se nada tivesse consequências, nem motivo aparente para existir. Os namoricos, os exames, as chatices com as amigas, os copianços, as noites académicas em bares que não lembra a ninguém, os flirts, os profs, os sonhos, a semanada, o bar da faculdade, as jantaradas nas tascas manhosas,… Que saudades da única preocupação ser a de inventar alguma aldrabice aos cotas para justificar alguma cadeira ou ano perdido.
Aqui, que ninguém me ouve, se fosse hoje acho que tinha perdido muitos e muitos anos e aproveitado ainda mais. Mais tempo. Mal se põe um pé fora da faculdade, com o canudo, ainda as últimas férias grandes estão a terminar e já os papás nos olham com outro olhar. O olhar das obrigações, das responsabilidades, do “bem-vindo ao mundo dos grandes”. Devia ter feito como muitos e dizer “afinal não era aquela a minha vocação, acho que me vou inscrever em filosofia” e continuar naquele mundo livre e boémio. É que, ou se faz isso logo de seguida, sem lhes dar tempo para pensar e nos dar aquelas boas-vindas, ou já não há escapatória possível. Agora, mesmo que quisesse não conseguia “abdicar” das responsabilidades e obrigações e voltar a estudar sem trabalhar. Infelizmente. Que raiva. Como disse uma vez uma pessoa que conheci e que já nem do nome me lembro, esses “são uns enganadores”. E quem me dera ser uma enganadora! Ser condecorada dux da faculdade, perder anos a fio na tuna e na comissão de praxe e o único horário a cumprir ser o do encontro no bar para matar uns finos, à tarde."

Tal como tu, minha querida amiga, partilho o mesmo sentimento. E daí ter feito um copy paste de empréstimo das tuas palavras.
A passagem desta semana cria sempre aquela nostalgia devastadora, como se esse nosso tempo tivesse sido já noutra vida. Também me começo a sentir velha...não pelo espírito, pelas vontades, pelas atitudes. Mas pelas dores nas pernas, nos pés, na cabeça e até por esta conjuntivite, que quase parece ter surgido para me dizer "Pensas que ainda tens idade para estas coisas? Tem juízo!"
Acho que até os shots me caem de outra forma no fígado...já não são bem para brindar à amizade, às asneiras "saudáveis", ao final de mais um ano lectivo, às festas, à boa vida, mas sim para conseguir olhar à minha volta e sentir que ainda consigo pertencer àquele mundo. Assim pelo menos salto. Canto. Danço. Sozinha ou com quem não conheço de parte nenhuma. Tiro fotos parvas. Sou capaz de reconhecer uma ou duas caras familiares que me dão umas borlas. E até sou ainda capaz de cair..."de tanto rir"...após dar uma cabeçada, no sentido literal da palavra.
Vivi muito. Aproveitei ao máximo. Ou não. Lá está, é o desejo de querer sempre mais. Mais daquilo que não nos incute o peso insuportável das responsabilidades de ser adulto. Aquilo que já somos e teimamos em não querer ser. Ou mostrar.
Mais do que a queima, sinto ainda mais a falta do cortejo. A esse não posso ir. Nunca mais. A sensação de passar a tribuna. Essa não voltarei a sentir. Nunca mais. A sensação de ser caloira. Essa só se tem uma vez na vida, tal como o sentimento de ser finalista. O traje. Odiava os sapatos, as meias que passava a vida a romper e a capa que pesava e fazia um calor sufocante nos dias mais quentes. Mas foi um orgulho. E a rodear tudo isto, os amigos. Aqueles que nos marcaram pelo convívio e partilha de momentos. Dessa "maralha", costumávamos nós dizer em linguagem académica, uns casaram, outros vivem longe e voltaram para casa, outros foram forçados a "desertar". Para poderem trabalhar!
É...como dizem os "cotas"...é a vida! Tudo tem o seu tempo. Mas apesar de tudo, ainda temos mais um fim de semana e o dia a seguir para descansar o corpo...aquele que paga quando a cabeça não tem juízo. Bora queimar os últimos cartuchos?



[Desta vez não estive lá...vejo o vídeo e arrepio-me. Com as lágirmas nos olhos, sorrio. Já tive o privilégio de lá estar e viver tudo o que estas pessoas estão a viver! BIBA O QUIM!]