quinta-feira, março 31, 2011

Pertenço à geração "casinha dos pais"

E a esta altura da vida começa a não ser nada fácil.

Tem as suas vantagens, não posso negar, mas cada vez compensam menos relativamente ao desejo de termos o nosso espaço.

Não termos que cumprir os horários estipulados (que, por motivos geracionais são opostos), não termos que dar satisfações por tudo e por nada, não termos que levar na cabeça naqueles dias em que só nos apetece alguma paz e sossego, não termos que estar preocupados se está tudo no sítio, limpo e arrumado quando chegamos do trabalho cansados e nos apetece relaxar um bocado antes de começarmos a pensar nesses pormenores, não termos que aturar "mesquinhices, taras e manias", não termos que discutir por causa do plano de férias, por causa de um fim de semana passado fora de casa, por causa da cadela que está com o cio, por causa da água quente que se gastou, and so on. Isto sem falar, claro, da pressão que de ano para ano, mês para mês, semana para semana, dia para dia, aumenta. É desgastante. Não querendo ser ingrata, já não se aguenta!

Das duas uma: ou ganho o euromilhões ou não tarda nada vou ter de parar, reflectir, e fazer contas à vida! 

Porque não nasci eu, tipo... sei lá... nos anos 60?...

quarta-feira, março 30, 2011

Leituras

Hoje, no escritório, recebemos a LuxWoman Edição Especial Casamento.Vi-a porque tenho de ver - faz parte das minhas funções laborais - mas vi-a também porque sou uma sonhadora e, como tal, sabe sempre bem - mesmo que possa ser um acto feminino masoquista, como referi no meu post anterior - ir folheando, admirando e, sobretudo, imaginando.

Pormenores à parte, saltou-me à atenção o artigo intitulado "O 1º ano - A prova de fogo" que começa com o seguinte parágrafo:
"Pode ser uma faca de dois gumes: por um lado, a paixão está bem acesa, mas é agora que se realçam as diferenças. Prepare-se para o grande desafio que é o seu primeiro ano de casamento!". 

Ainda há quem me venha dizer que ou é muito cedo ou é muito tarde para dar o "grande passo" (respeito quem o veja assim, eu atribuo-lhe mais o conceito de "passo natural" ou celebração de um sentimento único e mútuo). O conhecimento entre dois seres dá-se durante uma vida inteira, até porque as pessoas mudam. Pouco, pois considero que a verdadeira essência fica sempre, mas mudam. Nunca é tarde, nem nunca é cedo. Basta sentir. Basta querer. Basta desejar. Basta amar.

Adiante.

De entre os vários pontos/conselhos deste artigo destaco, por razões tão actuais, dois:
"- OS CONFLITOS SÃO SAUDÁVEIS: Por isso não os ignore. As discussões fazem parte da vida de qualquer casal e, desde que decorram dentro dos parâmetros do respeito e levem à resolução de um problema, podem até ser saudáveis.
- NÃO DEIXE O ORGULHO DESTRUIR A COMUNICAÇÃO: 'Nunca se deitem zangados.' É um conselho que muitas de nós já ouvimos das avós nos primeiros tempos de casadas. Nunca deixe nada por resolver. Pedir desculpa e assumir os erros quando temos noção de que não agimos correctamente são atitudes que fazem com que uma relação seja mais saudável."

Realmente...há coisas do "arco da velha"!...

terça-feira, março 29, 2011

Na próxima vida quero ser...um cão

...daqueles que vivem numa grande casa, podem dormir na cama dos donos, saltar para cima dos sofás, que comem ração gourmet (e uns petiscos por fora, de vez em quando), recebem mimo de toda a gente, e que dão passeios diários junto à praia ou num jardim.

Uma das coisas que mais odeio nas mulheres é a incapacidade de, pelo menos nos momentos menos fáceis, serem pouco práticas e demasiadamente sôfregas. Assim, como se...o mundo acabasse amanhã e não existisse mais nada para além do "agora".

Somos pura e simplesmente masoquistas. A bomba explode, com a força de uma bomba atómica (a qual desconheço, felizmente, mas que deve ser forte quanto baste), e vamos trabalhar com umas olheiras até aos pés. Perguntam-nos "está tudo bem?" e a resposta resume-se a um pranto de lágrimas com soluços à mistura. Ouvimos músicas, vemos imagens, pegamos em objectos que trazem todas as boas recordações e nos fazem desejar que tudo não passasse de um pesadelo. Contam uma piada e não nos rimos - nem o melhor palhaço do mundo nos consegue arrancar um sorriso nestas alturas -, a concentração esvanece-se, a paciência para aturar seja o que for é pouca e a vontade de falar é nula. Aliás, quanto mais nos deixarem estar caladas melhor. Isto sem referir o nó do estômago que enquanto não desata não nos deixa meter nada à boca sem que, logo a seguir, nos dê vontade de deitar tudo fora. Talvez o único sintoma que, no meio disto tudo, pode ser bom para as mulheres que desejam perder uns quilos. O pensamento anda sempre a 1000 à hora e o que num minuto até interpretamos como "pode ser um bom sinal", no segundo a seguir "se calhar significa o fim"! Estas somos nós, as mulheres, perante os dramas da vida.

Os homens não aparecem no escritório com má cara. Não ficam com os olhos como se tivessem levado dois murros porque não têm ataques de choro hora sim, hora não. Os amigos trocam umas piadas e a graça continua sempre lá. A vontade de fazer as coisas normais, do dia-a-dia, continua hirta e firme. A vontade de comer continua inata e conseguem comer uma francesinha daquelas bem fortes, se for preciso, e com o maior dos prazeres. O pensamento consegue abstrair-se, falam de tudo e com todos como se nada fosse e não andam à procura do que possa lembrar seja o que for que conduza ao problema em causa. Simplesmente continuam a viver, porque são... práticos!

Odeio que as mulheres sejam tão emocionais. Invejo os homens, esses seres racionais que se mostram sempre bem e que conseguem transformar o coração em pedra por tempo indeterminado. Odeio que não consigamos ser assim...práticas! (E, além disto tudo, ainda odeio que me mandes "bjos"!)

Quem sou eu? Tudo aquilo que sempre mostrei ser. Sou eu sempre. Igual a mim própria mas, de momento, com coração destroçado. E pouco prática. Sou eu.

U Know Who I Am



I'm sure you do...

segunda-feira, março 28, 2011

Excerto de "Tabacaria"

"O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda
que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades
do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant
escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta
ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada."


Fernando Pessoa

Afinal os sonhos também sofrem subidas na taxa de juros...

...e entram em falência.

Há quem demore uma vida a construir um castelo...e depois, o destino encarrega-se de maquinar uma partida irónica, e num segundo desmorona-se tudo.

O meu cofre dos sonhos abriu-se, mas a caixa traiu-me. Afinal, era a de Pandora.
Eu só me pergunto: porquê??

quinta-feira, março 24, 2011

O que será do amanhã se nem sabemos do hoje

Tenho a noção de que até o meu próprio pensamento anda confuso.

Aos 18 anos achava que aos 25 já ia estar casada e que até aos 30 seria mãe.

Hoje, com 29 anos e 8 meses, por vários motivos, dou graças aos céus por isso não ter acontecido, mas tenho guardados num cofre todos os mesmos desejos de há 11 anos atrás. Mais maduros, é certo, mas ainda existem e estão bem vivos.

Mesmo assim, por vezes, questiono-me se actualmente não será um acto egoísta colocar no mundo um ser humano que se confrontará com um futuro que se avizinha tão negro. Se eu, com esta idade, não sei “o que será da minha vida”, o que será a dos que vêem atrás de mim? Analisando mais pormenorizadamente, nem as gerações mais antigas, que certamente achavam que teriam um fim de vida sossegado, após terem cumprido as suas missões enquanto cidadãos, sabem hoje como serão os poucos dias que lhes restam.

O mundo transformou-se em tudo menos num mar de rosas...e grande parte da humanidade está como eu: com os sonhos encarcerados num cofre. Na alma. No coração. Esses não estão sujeitos a IVA, não têm que ser declarados, não entram no PEC, nem sofrem subidas de juros. São de graça. Pelo menos ainda.

Haja força e optimismo para acreditar que ainda é possível uma reviravolta, para que se possam abrir todas estas opostas caixas de pandora...

quarta-feira, março 09, 2011

Há coisas que nunca mudam

Com a quase chegada à tão “abominável” e temida entrada nos 30, paro um pouco e reflicto sobre tudo o que ouço – de amigos, de familiares, de desconhecidos que conversam sem se aperceberem que ali ao lado está alguém atento às palavras trocadas.

Os 30… a primeira reacção: “Que horror, estou a ficar mesmo velha!”, ou então: “Já?? Como o tempo passa depressa…”. Pois passa e, infelizmente, passamos cerca de um quarto de vida a desejar “ser grande” para depois chegarmos à conclusão que bom era ser criança e, a partir daí, passarmos o restante quarto de vida e a outra metade a desejar não termos crescido tão depressa.

Tenho algumas amigas que já completaram os seus 30 anos de existência. E amigos também, a maioria. Mas para os homens a entrada nos 30 está longe de ser um drama. Afinal os trintões, aos olhos de muitas mulheres, esbanjam charme, já sendo expectável a maturidade, o respeito, o cavalheirismo e a dedicação que aos 20 não nos davam por – pensamos nós – infantilidade, despreocupação e/ou distracção.

Mas 30 anos para uma mulher são tudo menos razão para festejos efusivos. Começamos a queixar-nos das rugas (e, consequentemente, a corrermos para comprar os cremes anti-rugas que antigamente só a mãe e a avó precisavam/usavam), a repararmos que o rabo está descaído, que as mamas já não são bem o que eram e que, no geral, todo o nosso corpo apresenta uma certa flacidez e alguns defeitos nunca antes detectados. Aparecem brancas no cabelo, a memória deixa de ser o que era, e tudo isto…de um dia para o outro.

Não será antes o facto de, a partir desse dia, olharmos para nós ao espelho e passarmos realmente a VER? Sim, porque antes, ainda sem a pressão inerente a esta idade ou sem os complexos “impingidos” pela sociedade, simplesmente olhávamos para o espelho…mas não víamos o que de um minuto para o outro passa a ser uma dor de cabeça.

Na rua passamos a aperceber-nos que as pessoas nos tratam por “senhora” em vez de “menina”. Mas nem ligamos ao pormenor dessas mesmas pessoas serem miúdas de 18 anos, e que também nós nessa idade achávamos os trintões uns “cotas”. Em todo o lado começam a perguntar-nos pelo casamento, pelos filhos, pela casa…e muitas de nós, mulheres de 30 anos, ainda vivemos com os pais, sem perspectivas desse futuro pelo qual nos perguntam, embora já com uma vontade imensa de o viver.

Ainda tenho 4 meses para aproveitar a casa dos “20”. Mas VEJO-ME e as rugas estão aqui. Em torno dos olhos, nos cantos da boca. Rugas de expressão, como lhes chamam. Não apareceram hoje, nem ontem, nem tão pouco sei precisar o momento em que surgiram, mas já cá andam. É natural, fazem parte da evolução normal de um ser humano. Se gosto delas? É óbvio que não. Mas o que fazer? Tenho de aprender a lidar com o envelhecimento e tentar minorar o seu desenvolvimento com o que actualmente existe. Exercício físico, cosméticos, tratamentos de estética. Já é uma sorte existir essa evolução científica e podermos usufruir dela. Quanto ao resto nada de muito diferente a declarar. O peito está no lugar, o rabo – maior ou mais pequeno – tem a sua cruz e nunca fará parte das minhas preferências. O cabelo continua forte e a dar trabalho q.b., a memória já foi melhor mas ainda está longe do inimigo Alzheimer.

O meu corpo vai realmente fazer 30 anos. Não há remédio nem volta a dar. Mas o meu “Eu” interior está longe de envelhecer e de acompanhar o ritmo do meu físico. Penso em mim, na minha pessoa, e sorrio. É que às vezes tenho a plena noção de que devo mesmo “roçar” nos limites do ridículo. Continuo a sentar-me no degrau de uma escada, na beira de um passeio, ou até no chão se for preciso. Continuo a escrever “bilhetinhos” como fazia nos tempos de estudante, mas agora em reuniões de trabalho. Continuo a ter ataques de riso incontroláveis quando vejo uma imagem cómica – ou não –, quando ouço o impensável, quando vejo cenários inesperados, ou quando me lembro de momentos únicos. Pior mesmo é ter estes ataques de riso sem motivo aparente e não conseguir parar por ficar nervosa exactamente… por não conseguir parar. Continuo a atirar-me para o chão quando o riso já me faz doer a barriga. Continuo a ver desenhos animados e a chorar com a história, se for triste. Continuo a ir à queima das fitas para estar com os amigos, a saltar de barraca em barraca, e sair de lá aos S’s. Continuo a tropeçar por estar distraída, a pensar no dia de ontem, ou a deixar cair tabuleiros e objectos afins por ter mãos de manteiga. Continuo a vestir calças rotas, a calçar "All Star" e a comprar camisolas com bonecos da BD. Continuo a gostar de entrar em parques infantis e andar nos baloiços e escorregões. Continuo a fazer sons parvos e a inventar nomes idiotas para dar às coisas ou às pessoas. Concluindo, continuo igual a mim própria.

Não sou casada, não tenho filhos, não tenho casa. Mas tenho trabalho e um tecto graças aos meus pais que me permitiram tê-lo. Sou saudável, tenho bons amigos, um namorado (até agora) perfeito, e muitos outros detalhes que fazem o meu dia-a-dia feliz.

Quanto ao que ainda falta “life goes on”, caminhando se faz o caminho e tudo o tempo se encarregará de esclarecer. Também já ouvi dizer, por várias bocas, que a fase dos 30 é a melhor fase da mulher, em todos os aspectos. Se assim for até fico expectante.

Independentemente de tudo, há coisas que nunca mudam, e continuo a ter em mim “todos os sonhos do mundo”.

05/03/2011 – Escrito metade na terra, metade nos céus

quarta-feira, março 02, 2011

Assim vai Portugal...

Este país não é para corruptos
Em Portugal, há que ser especialmente talentoso para corromper. Não é corrupto quem quer



... Que Portugal é um país livre de corrupção sabe toda a gente que tenha lido a notícia da absolvição de Domingos Névoa. O tribunal deu como provado que o arguido tinha oferecido 200 mil euros para que um titular de cargo político lhe fizesse um favor, mas absolveu-o por considerar que o político não tinha os poderes necessários para responder ao pedido. Ou seja, foi oferecido um suborno, mas a um destinatário inadequado. E, para o tribunal, quem tenta corromper a pessoa errada não é corrupto - é só parvo. A sentença, infelizmente, não esclarece se o raciocínio é válido para outros crimes: se, por exemplo, quem tenta assassinar a pessoa errada não é assassino, mas apenas incompetente; ou se quem tenta assaltar o banco errado não é ladrão, mas sim distraído. Neste último caso a prática de irregularidades é extraordinariamente difícil, uma vez que mesmo quem assalta o banco certo só é ladrão se não for administrador.
O hipotético suborno de Domingos Névoa estava ferido de irregularidade, e por isso não podia aspirar a receber o nobre título de suborno. O que se passou foi, no fundo, uma ilegalidade ilegal. O que, surpreendentemente, é legal. Significa isto que, em Portugal, há que ser especialmente talentoso para corromper. Não é corrupto quem quer. É preciso saber fazer as coisas bem feitas e seguir a tramitação apropriada. Não é acto que se pratique à balda, caso contrário o tribunal rejeita as pretensões do candidato. "Tenha paciência", dizem os juízes. "Tente outra vez. Isto não é corrupção que se apresente."


Por Ricardo Pereira Araújo in Visão